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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sábado, 7 de abril de 2012

NOITE DE LUTO AFRICANA


NOITE DE LUTO AFRICANA




Ouve-se o batuque lá na sanzala!
É o homem velho sentado que toca.
Recorda com saudades e triste calma,
Sentindo a perda da mulher já morta.
Som triste, melodia solta, ouve-se no sertão…
Lembra o tempo antigo, com saudade.
Os mais novos escutam então,
A sabedoria de quem tem idade.
O mais velho, tem o cachimbo na mão…
Recorda o velho com o olhar triste!
A fartura de outros tempos, já não existe!...
Da fumaça do cachimbo, olha o fumo que sobe.
O som do batuque também consome
O silencio triste da sanzala e tudo o que existe.
A panela de barro, com água a ferver está pronta,
A receber a fuba e fazer o pirão.
Peixe seco, não há! E carne também não!…
Palavras ditas pelo velho, ouvidas com atenção,
Pelos jovens que de cócoras, na roda fazem serão.
Mãe morta, não tem panos para se cobrir.
O corpo depositado na gruta, é coberto com folhas das árvores.
Velas que no outro tempo havia, não há!...
Ouve-se o batuque tocado na sanzala!...
Manda atear o fogo da fogueira e ouve com atenção os pios das aves.
O velho reacende o cachimbo já apagado.
É um mocho que solta ao longe, o seu piar arrepiante.
Sinal de passagem! Diz o velho agachado.
A alma da mãe já está na pastagem.
Os jovens choram em silêncio, o velho não tem lágrimas.
No centro das cubatas, o batuque solta os seus sons.
As mulheres choram e dançam ao ritmo das palmas.
Todos cantam, louvando a alma da defunta.
É uma dança com cantares de tristeza.
Ouve-se o som do kissange, tocado na penumbra da mata.
Á luz da fogueira, junta-se o brilho da lua cheia.
A noite está quente e quente está a alma que passeia.
O espírito da morta, pressentem com respeito, ao redor da cubata.
Ao longe, o mocho deixa de cantar,
O velho bebe um pouco de macau.
Pirão e leite azedo, é servido como refeição,
Em honra da mulher, em pratos de pau.
O Kimbanda aparece e manda tocar o mpwita.
É sinal de respeito e ajuda a alma a seguir o seu caminho.
Todos cantam e dançam, acompanhando o batuque com palmas e carinho.
O homem velho chora, cantando as suas mágoas e grita.
O tocador do kissange, acelera o ritmo e o batuque está frenético.
É a vez do Kimbanda dizer palavras mágicas que ajudam na caminhada.
O homem velho lamenta não ter panos coloridos e vinho e explica ao neto.
No outro tempo, tudo havia!... Agora não há comida!...
A massambala é pouca e o Macau é fraco!... Ao certo…
Temos de recorrer à ocisangua de gongo. Também é pura.
Mas o vinho era melhor bebida!...
A lua desce no horizonte e o fogo da fogueira está fraco.
Os tocadores do batuque estão cansados. A noite foi dura!...
Um pouco pelo cansaço da cerimónia, mas também pela bebida.
O Sol nasce e nas cubatas todos dormem e sonham com a subida.
Carlos Cebolo
carlosacebolo.blogspot.com/


Léxico Angolano
- Fuba – Farinha de milho
- Pirão – Espécie de pudim feito de fuba
- Macau – Bebida feita de massambala fermentada
- Kissange – Instrumento musical
- Kimbanda – Curandeiro
- Massambala – Grainha comestível parecida com o milho alvo
- Ocisangua – Bebida fermentada

- Gongo – Fruto silvestre Angolano.


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