O TEMPO DAS CHUVAS

Correm as nuvens ao sabor do vento,

Lágrimas soltas caem sem parar,

Banhando o terreno como alimento,

Naquele calor que veio para ficar.

África com todo o seu esplendor,

Sente-se os relâmpagos e a trovoada,

O constante e pegajoso calor,

Sons vibrantes de nova madrugada.

E em ti, não se ilude o pensamento,

Usos e costumes da nossa terra,

Teus seios firmes ao sabor do vento,

Mistério profundo que em ti encerra.

No inconstante, a vida se transforma,

O amor em ti, cresce sem um lamento,

A a chuva que cai promove a reforma,

De menina a mulher, segue o pensamento.

A chuva quente que o teu corpo banha

E transforma a tristeza em alegria,

Produz alimento na seca entranha

Da terra, no contraste da magia.

Carlos Cebolo

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RENOVAÇÃO

Calquem, recalquem a vida já vivida,

Que ela, novamente se vai erguer,

Lembra tempos passados do viver,

Recordando a vida que foi sentida.

E na alegria do tempo passado,

Recorda a saudade desse viver,

A vontade do querer só por querer,

Essa força jovem no desejado.

Com o tempo, tudo irás compreender

Que a vida vivida foi uma bênção

E esse querer do sofrido coração,

Na passagem, nunca se vai perder.

Passam os anos e os dias já contados,

Tristeza da juventude perdida,

Sem olhar à velhice merecida,

Na sabedoria dos sinais guardados.

Com a sabedoria dos tempos viver,

Ensinando quem o tempo não viveu,

A vida passada não se perdeu,

E tudo se renova no amanhecer.

Carlos Cebolo

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POR TI MULHER

A vida é como uma flor.

Floresce no amor

E morre no prazer

Que sempre procura conter.

Desnudo-me para ti mulher,

Numa ânsia a florescer,

Na tentação do teu beijo,

Toda a força do meu desejo.

E esta sede sente calor,

Do desejo do teu sabor

E do adocicado do teu prazer,

No pecado que quero viver.

Procuro a nova primavera,

Como quem procura a quimera,

Mesmo sabendo não a encontrar,

Teu rosto não sai do meu pensar.

Adormeço nas palavras que escrevo

E a ti me atrevo,

Incluir no meu sonhar,

Antes do dia clarear.

Imerso no sonho escondido,

Aguçando este meu sentido,

Combatendo estes meus medos

De soltar por ti, os meus segredos.

Este amor é como o vento,

Leva e traz o seu lamento,

No seu constante passar,

Sem nunca se fixar.

No infortúnio do amor,

Também carrega sua dor,

Aliviada no sonhar,

Na esperança do teu beijar.

Carlos Cebolo

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ILUSÃO DA POESIA

Grato serei dessa tua vontade,

Na distância, a entrega sem condição,

Sem saber se tudo isto é verdade,
Ou fruto da nossa imaginação.

A memória lenta, também é vasta,

Cobre o que se quer e o que não se vê,

Do que somos, um pouco de nós basta,

Nessa ilusão que também se revê.

Sonhos nocturnos para além de mim,

Sendo tormentas de um pensamento,

Acolhendo um desassossego sem fim,

Sinto em palavras, o teu chamamento.

Emoções de uma qualquer fantasia,

Traçam sentimentos em que se acredita,

Haver uma correspondência em poesia,

Entre as linhas traçadas numa escrita.

Poesia que cresce sem emoção,

É coração que foi despedaçado

E o que se sente, se tornou em vão,

Em todo esse sentimento guardado.

Carlos Cebolo

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ESTA VIDA

Esta vida tem dois lados:
Todos os momentos passados,
Realidade de um presente, 
Por onde fervilha a mente. 
Duros legados deixados,
Onde o viver é saber
Por onde se vai beber, 
Aquela doce magia
Da grande sabedoria.

Futuro? Tudo é presente…
As suas limitações
Na luta de vida ausente,
Aceitar contradições
Como lições de uma vida,
Nesse passado, vivida.

É nesse olhar do passado,
Onde deixei meu legado
Que vou buscar meu saber.
Aprender como viver,
Num futuro imaginado,
Neste presente acabado.

Carlos Cebolo
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SOU DE ALÉM- MAR

Eu sou daquela terra abençoada,

Como tu, pisei aquele chão sagrado,

Cheio de pó, incertezas e nada,

O chão vermelho pela chuva regado.

Como tu, também nasci africano,

Na panela de barro comi pirão,

Com outra cor de pele, mas sem engano,

É de lá, toda a minha geração.

Assim, choro por África onde nasci,

Com enxada na mão desbravei o mato,

Caminhos diversos que percorri,

Com feridas nos pés por não ter sapato.

Com meu irmão negro também chorei,

Nas tristezas da vida, a desilusão,

De todas as emoções que por lá criei,

Nesta vida não há comparação.

Carlos Cebolo

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DESEJO

Há muito que não te vejo

Colher flores neste jardim,

Será que te lembras de mim

Nas horas do teu desejo?

No meu canto, a solidão

De um mundo que não é meu,

Se o amor em mim floresceu,

Alguém teve esse condão.

Vem colher o que ainda existe,

Nesse jardim maltratado.

Cuida bem dessa flor triste,

Colhe o desejo guardado.

Assim nos mostra a poesia,

A cura de todo o mal,

Num amor com fantasia,

Todo o desejo é carnal.

Carlos Cebolo

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MURMÚRIOS

Gosto de andar na floresta,

Ouvir das aves, o canto,

É a alegria que me resta,

Somente isto e o teu encanto.

Alguns murmúrios sentidos,

Naquele ar tão perfumado,

Recordo os meus tempos idos

E o teu rosto iluminado.

Saudade que me faz ver,

O brilho do teu olhar,

Essa vontade em te ter,

Nos meus braços a sonhar.

E tudo isto acabará,

No dia do seu final,

Só nosso amor ficará,

Na perfeita união carnal.

Carlos Cebolo

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SONHAR CONTIGO

Esse teu sentir é o meu!...

O gosto de um beijo guardado

Na esperança do desejado,

O abraço que não se deu.

Em nós nada aconteceu,

A distancia foi barreira,

Mesmo não sendo primeira,

A paixão que se perdeu.

E o desejo fica guardado,

Nesse querer sem ter seu fim

E tudo será para mim,

Um sabor amargurado.

O beijo que não te dei,

Nesta tristeza só minha,

Neste amor serás rainha

Na vontade que criei.

Sempre que posso sonhar,

Com o teu rosto a sorrir,

Deixo o sonho voar e ir,

Nas frescas ondas do mar.

O mar da nossa paixão,

Que terá outro sabor,

Se em ti se sentir amor,

Apertando a tua mão.

Carlos Cebolo

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VALORES PERDIDOS

Melhor do que isto, só mesmo na China,

Bem diz esse ditado popular,

A justiça já nada nos ensina,

Esta corrupção veio para cá ficar.

E se tudo isto, assim se combinar,

Como mostra todos estes anos já passados,

A verdade de uma mentira vai ficar,

Como fica os resultados já firmados.

E assim anda o ilustre e bom português,

Que só vê e acredita no que quer,

Como cidadão vive nessa embriaguez,

Na glória do vencer, venha quem vier.

O importante é somente a ocasião,

No corromper toda essa incompetência,

Na manobra de apelar pela paixão,

Que a ilegalidade é fruto da inocência.

Carlos Cebolo

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NOVA ALVORADA

Tempo de chuva, tempo de fartura,

Terra vermelha coberta de nada,

A vida de lazer ficou adiada

E na xitaca, a fruta está madura.

Naquele chão, planta-se milho e feijão,

Terra abençoada de tanta beleza,

Com essa chuva cedo, faz boa mesa

E de fartura se enche a produção.

Cedo, a terra chama pela mulata,

No amanho da terra a felicidade

E toda essa beleza de tenra idade,

É bela mulher, a coberto da cubata.

A bela menina mulher que a terra ensina,

A colher os frutos da Natureza,

Dessa terra mãe retira a beleza

Que aos poucos vai traçando a sua sina.

Mulher bela e fértil, cedo formada,

Nessa xitaca onde tudo vai crescendo,

Por onde os meninos brincam e vão correndo,

Também sonham com uma nova alvorada.

Carlos Cebolo

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SABOR DO MOMENTO

Com esta névoa que me oculta o sonho,

A mim me fito e ponho-me a pensar,

Entre poeiras de um crepúsculo tristonho,

O teu amor, não veio para ficar.

A idade avança aumentando o desgosto,

De uma vida que sempre se arrastou

E das frias mãos que te afagam o rosto,

Não sentes o calor que outrora mostrou.

E com este caminhar que entristece,

Caminha-se sem o sabor do momento

E a vontade de viver esmorece.

Como o outono, se renova a esperança

A idade fortalece o sentimento

E esta vida volta a ganhar confiança.

Carlos Cebolo

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PEQUENAS MANCHAS

Pelo teu corpo, singra o meu amor,

Voa como uma alma peregrina,

Sugando o teu sonho de menina,

Plantando no teu olhar, a dor.

Navios sob as águas serenas,

Na revolta com todas as mágoas,

Solta no rosto as salgadas águas

Libertando todas as suas penas.

Na triste, mas fulgida mentira,

Deixando-se embalar inconsciente,

Lamenta os laivos da sua mente.

Juventude que se despedira,

Do seu corpo alegre de menina,

Não mais deixou de ser peregrina.

Carlos Cebolo

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ESTAR SEM ESTAR

Neste lugar me encontro,

Na multidão sem sentido,

Com esse terrível confronto,

De um passado já vivido.

Olho sem ver a origem,

Outros costumes ditados,

Sinto na vida a vertigem

Destes dias consumados.

E se alguém me interroga,

Do olhar distante e inconsciente,

Meu olhar não se revoga,

Por ter uma alma diferente.

Na conversa entre iguais,

Aguçam-se as memórias,

Lembranças e muitos ais,

Pintam as nossas glórias.

Nossa maneira de ver,

A vida que nos rodeia,

Unidos mostramos ser,

Na cidade ou na aldeia.

Nossa união contagia,

Aqueles que nos olham,

Sentido em nós a magia

E connosco também choram.

Carlos Cebolo

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CASTELOS DESFEITOS

Meus castelos feitos de luz e alegria,

Entre sonhos que a própria noite se alimenta,

Criando memórias que depois se lamenta,

Por serem fracos, caíram ao fim do dia.

E de manhã, quando o sol retira a lua,

Nas horas mortas, ainda adormecido,

Recordo o teu beijo que não foi sentido,

E na imaginação, recordo-te nua.

Por entre as pedras soltas do meu castelo,

Esse querer-te é mais forte do que eu

E este meu sonhar, tornou-se pesadelo.

Tua figura desdobra-se na mente,

O castelo desfeito já não é meu

E o beijo sonhado não estará presente.

Carlos Cebolo

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JÁ ERA NOITE

Já era noite, quando voltaram os morcegos,

Na figueira-brava junto à tua cubata,

Cobriam a luz da lua com seus corpos negros,

Quando esta despontava por cima da mata.

No teu corpo, senti o desejo do meu toque

E essa tua beleza no contraste da luz,

Cheiro perfumado com o sabor do maboque

Que a tua pele, no sabor da noite produz.

Lá longe, o som próprio da noite africana,

Produzia o encanto de fresca loucura

E nós deitados dentro da tua cabana,

A eles alheios, no momento de ternura.

Para nós, foi reservado aquele bom momento,

Da tua entrega sem nada pedires por tal,

A não ser o valor do nosso sentimento,

Nessa reciprocidade do ser mortal.

E a noite se foi alongando na savana,

Com aquele esvoaçar do irrequieto morcego,

Lá fora, junto à nossa pequena cabana,

Surgia a lua, zelando o nosso sossego.

Carlos Cebolo

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NADA É MEU

Do que escrevo, nada é meu,

Neste sentir da ilusão,

Nada triste me aconteceu,

Nem sofrido é o coração.

São sentimentos em poesia,

Escritos sem ser confissão,

Que com alguém se fantasia,

Neste mundo de ilusão.

Se assim traçar sua sorte,

Com algo que lhe tocou,

A esperança não é de morte,

Pois a vida não parou.

Se a poesia é de encantar,

Com o seu toque de ilusão,

O sentir não vai ficar,

Nessa simples emoção.

Se o que escrevo não é meu

E em tudo estou enganado,

Foi alguém que assim me deu,

Este dom tão encantado.

Carlos Cebolo

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SUSPIROS

Suspiros inflamados que cantais,

A tristeza do meu segredo,

No meu pranto tudo concedo,

Aos meus pensamentos leais.

Nas minhas entranhas se cria

Esse amor que tudo enobrece

E que a alma humana se enriquece

Desse calor na fantasia.

Na imaginação esse sonho,

Que o corpo acordado consente,

Assim profundo e tão medonho.

Sentir no beijo essa aventura,

Do perigo eminente e consciente,

Tocar teus lábios com ternura.

Carlos Cebolo

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MÁGOAS DA VIDA

Tenho a vida por madrasta,

Com séculos da mesma lei,

Sem saber o que já sei,

Vida triste e sempre vasta.

No amor, a vida se arrasta,

Caminhos por onde irei,

A ferida que não sarei,

Sem saber o que se passa.

Cruel destino a minha dor,

A mágoa que a vida trouxe,

Sem tornar a boca doce.

Vou cantando esse eterno amor,

Como a onda do mar que passa,

Vai deixando a sua graça.

Carlos Cebolo

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TARDA ESTE AMANHECER

Na escuridão dessas horas tardias,

Entre os mistérios que a noite produz,

Rei Júpiter estende o seu facho de luz,

Por onde passam as horas e os dias,

Entre mistérios e seus pesadelos,

Vagueia a alma os seus momentos mais belos.

Ouvem-se vozes dolentes no ar

E aquele descompasso do coração,

Na ânsia de um tempo que não quer passar,

Sente o medo de toda essa ilusão,

No desejo de ver passar o dia,

No despertar daquela hora tardia.

Na noite, a sentida desilusão,

Entre arfados soluços silenciosos,

Suores frios nos sentidos duvidosos,

Da luz quebrada com nova paixão.

Esse amor, volta a ter nova esperança

E nos sentidos sonhos a confiança.

Sonho de amor, será o sonho certo,

Nessa penumbra, perdem-se as canseiras,

No imprevisto, surgem novas fronteiras.

Na vida se cria novo projecto,

Onde a aurora se perpetuará

E a vida, novo sorrir sentirá.

Carlos Cebolo

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