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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013



            
                ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA                                        
                                                        XIV Parte
Como nada encontraram. Foram embora, mas antes fizeram novos disparos para o tecto e janelas.
A cadelinha quando ouviu os tiros, urinou pelas patas abaixo e foi esconder-se na casa de banho. Quando os militares saíram, a cadelinha correu para o quarto do casal e escondeu-se lá.
Carlos foi dar com a cadelinha que tremia por todos os lados, escondida entre as mantas que estavam espalhadas no chão do quarto. Fez-lhe uma festa na cabeça, pegou nela ao colo e levou-a para o quintal, para longe do barulho. A cadelinha levou muito tempo a acalmar e depois disto, sempre que ouvia qualquer barulho estranho, gemia com medo.
Pascoal passava estes conturbados dias, junto à casa de Carlos. A população já tinha muito pouco o que comer e ali, sempre que Carlos ia almoçar, dava também um prato com comida ao seu aluno.
Quando os militares se foram embora, Pascoal foi ter com Carlos que se encontrava no quintal da casa e disse:
- Professor, alguns destes homens são os mesmos que foram à minha sanzala e que queriam prender o professor.
Carlos agradeceu e sossegou o seu aluno.
O tempo foi passando e Carlos e toda a população que tinha ficado na vila, estavam cada vez mais receosos.
A luta armada partidária estava no seu zénite. A Unita tinha vindo com uma força bastante grande, apoiada pelos sul-africanos e tinha corrido com o MPLA do sul de Angola e ocuparam todo o território até às portas de Luanda.
Carlos e toda a população ficaram contentes. Pois o MPLA não tinha deixado saudades. Estavam esperançados que agora as coisas iriam entrar nos eixos. Puro engano.
Os militares, desta vez em nome da UNITA, invadiram novamente a casa de Carlos à procura de armas.
Fui o mesmo terror. E o mais grave é que Carlos conheceu os militares. Eram os mesmos que lá tinha estado em nome do MPLA. Apenas tinham mudado de camisola política.
Foi a gota de água,
Em Janeiro de 1976, A sogra de Carlos fecha a casa comercial, entrega a mesma a um colaborador negro da sua confiança e com toda a família e restantes moradores da vila, carregaram as carrinhas com o que puderam e fizeram uma caravana em direcção a Sá-da-Bandeira.
No Lubango foram para o Bairro Benfica, onde a sogra de Carlos tinha uma vivenda e ali ficaram a ver as coisas a acontecer. Mas sempre com esperança de quando tudo assentasse, voltarem para a sua vila. Nunca lhes tinha passado pela cabeça, abandonarem Angola.
No Lubango as coisas estavam mais calmas, mas mesmo assim era perigoso sair à rua. Os militares da UNITA que ali tinham ficado, eram sem preparação alguma e apenas utilizavam as armas para roubar o pouco que ainda havia. Os outros, mais preparados civil e militarmente, tinham ido com a tropa sul-africana para junto de Luanda.
O cunhado de Carlos. O Rui Gaspar, também conhecido por Cuanhama devido à alcunha do pai, que tinha ido ao centro da cidade para ver se encontrava amigos, foi preso pelos militares da UNITA e levado para o batalhão militar. Um amigo foi à casa da sogra de Carlos e contou o que se tinha passado. Uns militares queriam o relógio que o cunhado de Carlos tinha no pulso e como este não lho deu, acusaram-no de ser do MPLA e prenderam-no.
                                          XV Parte
O sogro de Carlos, Alberto Gaspar, conhecido no Lubango por Cuanhama e que foi um grande guarda redes do Benfica do Lubango, conhecia o comandante da UNITA, foi ao batalhão para falar com ele, mas não chegou a entrar. À porta do batalhão estava um militar muito jovem com uma arma na mão e quando o sogro de Carlos disse que queria falar com o comandante, o militar perguntou qual o motivo. Quando o sogro de Carlos disse o motivo, levou umas chapadas na cara e foi mandado embora ou também iria preso.
Quando o sogro de Carlos chegou a casa e contou o que tinha acontecido, começou a formar-se a ideia de que Angola estava perdida. Os não pretos, mesmo angolanos, não tinham ali lugar.
Uns dias depois, o exército sul-africano regressa e começa a retirada das suas tropas de Angola. Nessa altura fazeram convite a quem os quisesse acompanhar, pois iriam deixar Angola de vez.
O comandante da força sul-africana disse que garantia a segurança dos que quisessem ir com eles até à fronteira, nomeadamente até à cidade de Pereira D’Eça, onde iriam estacionar e aguardar ordens. Mas quem quisesse ficar, ficaria por conta e risco próprio.
Com a retirada dos sul-africanos, o MPLA apoiado por forças internacionais, nomeadamente soviéticas e cubanas, deslocaram-se em direcção ao sul de Angola.
Com a chegada das tropas sul-africanas ao Lubango, os homens da UNITA soltaram os presos e também se prepararam par fugir.
Carlos foi avisar os seus pais e restante família, que também estavam no Lubango, que ia embora com os sul-africanos e que possivelmente iria abandonar Angola.
Ninguém dos seus familiares quis ir. Pois não lhes passava pela cabeça abandonar Angola, uma vez que não conheciam qualquer outro país e a sua vida era ali.
Carlos despediu-se e disse que iria tentar fazer a vida noutro sítio qualquer, pois Angola estava perdida.
Carlos nessa altura pensava poder ficar na Namíbia ou África do Sul.
No dia seguinte, logo de manhã, foi formada uma coluna de viaturas civis e militares e seguiram para Pereira D’Eça.
A cidade de Pereira D’Eça estava super lotada e depois de muito se procurar, lá se arranjou uma casa desabitada, velha, sem portas e sem telhado, onde Carlos e a família montaram acampamento
Laica a cadelinha foi com eles, pois acompanhava sempre o casal.
No acampamento improvisado, os colchões estavam estendidos no chão da casa que lhes servia de abrigo.
Ao fim da tarde a cadelinha laica começou a ladrar muito aflita e a dar pulos.
Carlos foi ver o que se estava a passar, quando viu a sua querida cadelinha a lutar desesperadamente com uma grande cobra cor de chumbo, com cerca de metro e meio de comprimento e com 3 a 4 centímetros de largura que tentava ir em direcção à casa onde estavam acampados.
A cobra acossada pela cadelinha, meteu-se debaixo da carrinha do sogro de Carlos e enrascou-se no eixo traseiro.
A cadelinha ladrava, urinava e dava pulos, mostrando os seus pequenos dentes à cobra.
Um tio da mulher de Carlos, que também ali estava acampado, com um pau comprido, matou a cobra.
Continua 

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