SONHOS

 

Tive um sonho hilariante,

O relógio andou para trás,

O passado que me apraz,

Deixou-me mais confiante.

 

Andei no tempo ao contrário,

As aventuras de outrora,

Todas vividas agora,

Num outro fuso horário.

 

Tão belo passeio assim,

Vivido no meu sonhar,

Continuei a caminhar,

No vasto e lindo jardim.

 

Fui parar à beira mar

E tu estavas ao meu lado,

Com teu sonho realizado,

Agarrado ao meu sonhar.

 

De repente tudo acabou,

Do sonho fui despertado,

Sem estares ao meu lado,

O sonho não mais voltou.

 

Carlos Cebolo

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SONHOS À BEIRA MAR

 

Nos passeios à beira mar,

Colho os odores da maresia,

Alimentando a fantasia,

Na ousadia do delirar.

 

Nos sonhos aumento as vidas,

Sou quem quero, sou esperança,

Sou mais que a simples lembrança,

Mistérios nas noites perdidas.

 

A ausência aumenta o desejar

Do teu corpo, onde o mar desliza

Sons celestes, por entre a brisa,

O delírio do teu beijar.

 

À noite comtemplo a lua,

Respiro a realidade que sou,

Sentindo tudo o que dou,

No toque da tua pele nua.

 

Carlos Cebolo

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SILÊNCIOS

 

Os silêncios são como as ausências,

Deixam saudades, criando amizades,

Levando para bem longe as realidades

Que florescem nas mais nobres essências.

 

Ao longe, bem fundo no pensamento,

Busca-se essa voz que leve nos toca,

Sentindo o sabor do beijo na boca

Naquela plenitude do momento.

 

Dos teus silêncios, gosto desses instantes

Que a própria voz, ao longe não alcança

E que te transporta ao tempo de criança,

Lembranças passadas que estão distantes.

 

Com esse teu silêncio, fico mudo,

Comtemplando o gesto do teu sorriso,

Que em sonhos me faz perder o juízo,

No alegre momento em que te desnudo.

 

Em sonhos tão perto, estás ausente,

Distante e desejada, como a sorte

Forma todo esse silêncio de morte,

Na consciente ilusão que a alma consente.

 

Carlos Cebolo

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PENSANDO EM TI

 

A noite é longa,

A lua nem sempre brilha,

Senta-te junto a mim

Neste meu sono desperto

Que está a chegar ao fim.

 

Nem tudo o que amei

Ainda existe,

A cama nem sempre é quente

E a alma nem sempre é triste

E por ti sempre chorei.

 

Teu cantar sinto no ouvido,

Doce melodia feita de tudo,

Lembra-me o mais belo jardim

Pois sei que não estou esquecido

E guardo recordações do mundo.

 

No meu sonho sinto-me sorrir,

Se te amei, não sei,

Nem sei o que senti

E sem perder a razão,

Sei que contigo sonhei.

 

Carlos Cebolo

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5ª VISÃO

 

Na minha visão, o instante existe

E sem sentir gozo nem tormento,

Com essa tristeza que persiste,

Rumo a minha vida contra o vento.

 

Tenho em mim as sensações vividas,

Sem desmoronar nem edificar,

Guardo emoções no tempo perdidas,

Pensamentos que quero guardar.

 

Se com isso a vida se completa,

Sem saber se por cá fico ou passo,

Procuro um dia vir a ser poeta,

Na vida que crio ou que desfaço.

 

Carlos Cebolo

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ANSIEDADES

 

 

Procuro não manter a ansiedade,

O lobo mau que a vida devora;

Crio o mundo à imagem da bondade,

Tudo o que não presta, deito fora.

 

Meus desejos, por vezes bloqueados,

Jardim florido na vertical,

Gostos e gestos são despejados,

Num sentir do desejo final.

 

Tocam os sinos na passagem da vida,

A Múmia permanece deitada

Como se a vida fosse distraída,

No jardim de floreira ajeitada.

 

O lobo bom, avança por fim,

Dominando o outro lobo mau,

A vida nem sempre é um jardim,

Nem porto seguro que abriga a nau.

 

Deixo cair toda essa ansiedade,

Na escada da vida que sustento,

Pelo mundo procuro a mocidade,

Que foi perdida no seu lamento.

 

Carlos Cebolo

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FOTOGRAFIA

 

Ontem fui o que hoje não sou,

Atlético, jovem forte e perna veloz

Que muito desporto praticou,

Falando sempre em alta voz.

 

Um pouco rebelde, alegre e magro,

Aventureiro sem medo do perigo,

Colhendo por vezes um sabor amargo,

Mas em todo o lado tinha um amigo.

 

Hoje sou o que ontem não fui,

Mais calmo e com um outro saber,

Colhendo o que com a vida evolui,

Uma mudança que me faz tremer.

 

Alma fraca com mãos sem força,

Um olhar mais triste e vazio,

Olhando o que o espelho mostra,

Imagem de semblante mais frio.

 

Pouco dei por essa mudança,

Tão natural como a própria vida,

Mas sem perder a confiança

Procuro levar a vida divertida.

 

Carlos Cebolo

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MAR DO SUL

 

Atormento-me às vezes com a vida passada,

Onde a noite cheira a balsamo e é desejada.

Sonho ser senhor naquele quente mar do Sul,

E a brilhante lua, brilha no mar azul.

 

A brisa traz aromas de cravo e canela,

Com os olhos abertos sonho com a imagem dela

E paira no ar adocicado esse desejo,

Com sabor a menta e gengibre do teu beijo.

 

Os meus pés descalços banhados na água clara,

Olhar a lua e as estrelas que a noite ampara

E por entre o arvoredo, as belas clareiras.

 

Sonho com lindas torres feitas de marfim,

Palácio de madrepérola sem ter fim

E o belo canto das aves, junto às palmeiras.

 

Carlos Cebolo

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LEVEZA

 

Esvoaça a pena, levemente ao vento,

Pássaro ferido nessa imensidão,

A sombra mais leve que o pensamento,

Realça a força do seu coração.

 

Canta o pássaro todo o seu lamento,

No cair da pena traça a emoção

E no seu cantar confirma o momento,

Deixando no ar, fluir a canção.

 

Canto leve de trinada garganta,

Tão leve como o seu próprio desejo,

Voa a pena que a própria brisa encanta,

Poisando nos teus lábios o meu beijo.

 

Carlos Cebolo

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PENSADOR

 

Este verão está no seu final,

Remexendo as rochas à beira-mar,

Colho salpicos de aroma floral,

Olhando as marcas do meu caminhar.

 

Na mescla de areia e água corrente,

Que essa maré vazante vai deixando,

Colho conchas e coisas vagamente,

Entre espaços que a maré vai criando.

 

Para ti, voa esse momento meu,

Liberdade das nossas sensações,

Troca o passo no olhar que se perdeu.

 

No encantado mundo onde permanece,

Busca essa liberdade entre clarões,

Lembrando a virtude que prevalece.

 

Carlos Cebolo

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O QUE FOI

 

Sinto-me preso num tempo sem fim,

E preso entre algemas de uma saudade,

Sinto essa desfolhada solta em mim,

Levando na corrente a mocidade.

 

Águas violentas do rio que passa,

Num tempo que se transforma veloz,

A vida vai perdendo a sua graça

E sentimo-nos cada vez mais sós.

 

Amigos dispersos por vários lados,

Escondem as lembranças da mocidade,

Forçando sorrisos amargurados.

 

Apaga-se a história desse passado,

O tempo vai apagando a saudade

Tudo o resto, deixa de ser lembrado.

Carlos Cebolo

 

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ÉS

 

Na intimidade da saudade,

Sente a glória eterna

E guarda na alma o seu olhar,

No refúgio secreto do tempo.

Em si,

Tocam os sinos da paixão

E como melodia suave,

Cintilam como estrelas

Que afagam o seu coração.

Todas as histórias são guardadas

E as promessas que ainda voam

São cartas por abrir

E desejos sentidos no secreto.

És fénix renascida do jogo

No horizonte negro do mistério,

No anseio do seu toque

E no sentido do prazer.

És alma passageira

Sem rumo ao sabor do vento,

Procurando a bela nascente

Onde vais beber

No sussurro do silêncio.

És folha seca ao vento,

Dente de leão que voa sem parar,

Colhendo o sabor da tempestade,

Vertendo o seu lamento.

 

Carlos Cebolo

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PARA ALÉM DO TEMPO

 

Espírito aventureiro, coloriu-lhe o rosto,

A terra virgem beijo-a com o seu sorriso,

Para  além do mar, no coração deixa desgosto,

Ensinou a língua e tudo o que foi preciso.

 

À noite, um céu estrelado, no Norte não visto,

Tem o cruzeiro do Sul como orientação

E na aventura, o espírito e a protecção de Cristo,

Nessa terra onde já entregou seu coração.

 

É colono nessa terra que desbravou,

Sem temor, com trabalho e sem hesitação,

Esconde no olhar, as lágrimas que já chorou.

 

Nessa terra longe onde o Sol sabe queimar,

Teve desgosto, mas também grande emoção,

Sentiu saudades, deixadas para além do mar.

 

Carlos Cebolo

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 [UdW1]

 

ESCUTA-ME O VENTO

 

As folhas tingem de castanho o chão,

Ouve-se a voz do tempo no seu odor,

Com um silvo, o vento entoa a canção

E nessa ausência, somente fica o amor.

 

Asas nascem do fogo da minha alma,

A sombra de mulher que me alimenta

O desejo sentido que me acalma,

Luz do teu sorrir que de mim se ausenta.

 

A brisa sussurra ao meu ouvido,

Canto do rouxinol enfeitiçado

Que procura voar num mundo esquecido.

 

Ao vento, ouve-se esse sabor do prazer,

O sopro do beijo sempre esperado,

Onde esse amor só meu, me faz sofrer.

 

Carlos Cebolo

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PARA LÁ DOS SONHOS

 

Passam os dias,

Passam meses e anos,

Nada!

Apenas sobra o nada

E o cansaço não atinge o tempo

Que corre e não pára.

A perfeição!...

Dizem que não existe,

Mas os julgamentos acontecem

E as críticas também.

Estou cansado;

Cansado de tanta hipocrisia,

De um amor que se quer livre,

Mas não o é.

Colho o veludo do teu olhar,

O sorriso da tua alma

E o desejo inconcreto do teu amor.

Colho pétalas nuas da ansiedade

E a forma de viver do teu sentir.

Colho o perfume do tempo

E o sentido dos sonhos mudos

Que falam de um amanhecer

E sem poder vencer o sonho,

Encerro as persianas do meu olhar.

Para lá dos sonhos! O El dourado,

Aquém, fica o desejado.

 

Carlos Cebolo

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AI FUTURO!

 

Ai futuro, futuro!...

Quem dirá que será já amanhã

E que ontem já é passado.

Em tudo isto, o hoje tem uma palavra,

Entre o ontem e o amanhã,

O concreto, o planeamento e a utopia,

Tudo será lembrado e imaginado.

 

Um sonho para criar o futuro,

Não deixa de ser utopia

E os desejos nem sempre serão concretizados.

 

O futuro só é concreto quando passa a ser hoje

E o ontem já é uma saudade,

No sonho de um hoje que quer ser eternidade.

 

Ai Futuro, futuro!...

Tantos sonhos desfeitos,

Projetos e mais projetos traçados

E a utopia mostra sempre a sua força.

 

O futuro só pode ser imaginado,

Ilusão que hoje será concretizado

E que o próprio sonho o reforça,

Procurando um rumo para o futuro

Que será para sempre uma utopia

E um sonho para a eternidade.

 

Carlos Cebolo

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O TEMPO DOS TEMPOS

Ergue-se o sol pela manhã,

No meu sentir, a sua doçura,

Aquele sabor da luz

Que me ilumina o rosto,

Enche-me de ternura,

Levando para longe o desgosto.

A brisa suave traz o teu perfume

E enche o ambiente de cor,

Como o arco-íris desmonta a cor do sol,

Na beleza da natureza

E nesse colorir, sinto o teu odor.

Floral intenso na madrugada,

Colhe o orvalho poisado na relva

E mata a sede que escalda o dia

Que se refresca com o teu olhar.

Sinto-te no meu sonhar,

Todas as preces foram pintadas,

Aguarelas em lágrimas feitas

De um choro que não existiu.

Asas abertas dos meus sonhos

Sentidas neste teu querer

Em voar rumo à vida.

Se eu pudesse!...

Ai se eu pudesse trincar a maçã,

Seria Adão no teu paraíso

E tu a Eva da minha aventura.

Poderia voar contigo,

Onde a fantasia cria asas

E dá corda à imaginação.

O meu desejo cobriria

Não só o teu mundo,

Mas o mundo inteiro

Por onde o coração

Substitui as palavras.

Carlos Cebolo

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ESCREVO POR ESCREVER

Escrevo aqui, ali e escrevo além,

Escrevendo serei sempre ninguém,

Cansado não estarei do deus sem fim,

Ideias, sonhos, será sempre assim.

Se é falsa por vezes a verdade,

Momentos também são realidade

E a lucidez pode ser escuridão,

Talhada na vontade de uma ilusão.

Um vago vento se apoderou de mim,

Em seres minha, o desespero sem fim,

Sem pensar, consinto essa conjuntura,

Querer provar o gosto da aventura.

Carlos Cebolo

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O CRUZAR DO OLHAR

Olhos nos olhos, o cruzar do olhar,

Foi reflectido assim o meu desejo,

O querer sentir o sabor do teu beijo,

No aconchego do teu forte abraçar.

No limiar do sentir, o sonho meu,

Ser tarde ou cedo, o destino traçado,

Se for tua vontade o desejado,

Aguardo sereno esse chamado teu.

Nessa encruzilhada, o olhar ficou

Irreflectido, preso no pensamento

E no cantinho secreto o guardou.

Sei que penso e esse desejo consinto,

Esperando eternamente o momento,

Deixo correr livremente o que sinto.

Carlos Cebolo

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MAIS DO QUE TERRA

Mais do que terra sobre terra,

Florestas, planaltos e desertos,

Corpos sobre corpos na erosão,

Caminhos que este mar encerra,

Dos sonhos abertos e incertos,

Criados na própria ilusão.

Nas mortalhas ficou o pó,

Corpos despidos da nudez,

Cantando a sua triste história,

De um deus menor que sente dó,

Com toda a sua estupidez,

Colhendo louros sem ter glória.

Aos olhos da noite, tons pardos,

Crina alva da onda selvagem,

Pelos caminhos descobertos,

Formaram colónias e seus fardos,

E hoje, prestam vassalagem,

Das glórias e valores despertos.

Ó mar salgado da ilusão,

Na tormenta, a grande bravura,

A chama que a vida criou,

Por entre preces e oração,

Aquele gosto pela aventura

Que tantas terras desbravou.

Assim foi descoberto o mundo,

Pequeno país, grande povo,

Dobrou o promontório do medo,

Lançando um grito tão profundo,

Tomou como seu o mundo novo,

E da glória fez seu segredo.

Carlos Cebolo

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