SEM VEZ FICOU A TRISTEZA

Não cantes já vitória infame tristeza,

Na tua triste fúria, tudo se elimina

E dessa glória não terás beleza,

Pois ser alegre é minha natureza.

Nesta minha voz que o teu canto inspira,

Na poesia com toda essa incerteza,

Entre o som velado da bela lira,

Semeio luxúria com gentileza.

E tu, infame tristeza do engano

Que procuras com ardil conquistar

A pequena nódoa no fino pano,

Perdes-te no tempo com o teu sonhar.

Nesta minha vida não terás vez,

Por ela, cantam as ninfas da alegria,

Com esse canto a tristeza se desfez

E colho a alegria com simpatia.

Carlos Cebolo

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O GOSTO DO SILÊNCIO

Estar silencioso é estar ausente,

Se esta minha voz não te tocar

Que te toque o meu sonho consciente,

Com o beijo que te quero ofertar.

Um sonho aparentemente distante,

Promove o gosto do desafio,

Por este mundo frio e inconstante,

Deixa-me calar este silêncio.

E se gosto do silêncio infiel,

Distante como esta eternidade,

Guardado na força de um anel,

Também gosto da imoralidade.

Ser imoral é um acto consciente,

De quem por amor, sempre sofreu,

Sem coragem daquele passo em frente,

Com a juventude que se perdeu.

Carlos Cebolo

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LIMBO MENTAL

Durante a noite, a vida se alonga e estremece

Como uma vara verde exposta ao vento norte,

Na terra onde não há esteiros e tudo acontece,

Sem regras, fortuna ou simplesmente sorte.

Sem querer sonhar, o sonho sempre aparece,

Com a desilusão daquele sentimento escondido,

Atormentando essa pobre alma que adormece,

Naquele mundo nebuloso, frio e esquecido.

Há quem o chame de pesadelo somente,

Mas será muito mais do que aparenta ser,

Quando a solidão aparece eternamente.

Do Outono, se passa ao inverno deprimente

E essa flor da vida deixa de florescer,

Tolhendo o fruto na sua própria semente.

Carlos Cebolo

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MEDO

Ao longe, houve o trotear,

O bater de cascos na rua deserta

Parece estar a chamar,

Quem àquela hora desperta,

Desafio de quem comanda o sonhar.

Uma voz na escuridão,

Ecoa no ouvido de quem não quer ouvir.

Como vara de condão,

O medo que o faz sorrir,

Esconde toda aquela triste solidão.

Na testa, o sinal da cruz!...

No céu aparece um fraco luar passageiro,

Mostrando alguém com capuz

Que chama pelo ferreiro,

Apontando para o cavalo, na fraca luz.

Carlos Cebolo

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BEIJO

Nesta manhã de plena frescura,

O sol nascente que se demora,

Engana o deus cego da ternura,

No sabor que o meu lábio devora.

O teu beijo ainda não sentido,

Nessa alvorada do meu instante,

Na calmaria do amor ferido, 

Continua esse querer incessante.

Corola no fabrico do amor,

Dessa tua boca o meu desejo,

Sorver o néctar do teu sabor,

Solto dos teus lábios no meu beijo.

Neste dia, lembrando a ternura,

Desse beijo com o seu sentimento,

Abre-se as portas à triste clausura

E celebra-se o doce momento.

Carlos Cebolo

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VIVER PARA AMAR

Hoje estou aqui!...

Amanhã, quem sabe onde estarei.

Por tudo o que já vivi,

Recordarei aqueles que sempre amei.

Na velocidade da vida, o meu temer!...

Para trás ficará sempre uma vida inteira,

Mas o mais importante será sempre viver

Sem pensar em bobagem e sem fazer besteira.

Amar por amar, que seja agora,

O amanhã, virá sempre tarde

E o tempo não perde nem demora

E esta realidade, será sempre a pura verdade.

Não olhe para trás!...

Por lá ficou a saudade

De uma vida que foi sempre fugaz

E tudo nos lembrará a mocidade.

O passado será sempre conselheiro

E como um dia tudo se desfaz,

Terei o tempo por companheiro

E em quanto ele durar,

Viverei para amar.

Carlos Cebolo

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TAREFAS DE UMA VIDA

E no nascer do dia se faz obra!...

Despojos de vida de uma saudade,

Pedaços de roupa de pequena sobra,

Naquele caminho para a eternidade.

E assim se deita a juventude caída,

Num pedaço de terra meio escondida,

Entre as ervas de um matagal,

Por onde o Sol, esconde a moral.

São pequenos laivos de uma necessidade

Bem contrários à verdadeira felicidade,

Oferecidos naquela fragilidade,

De uma vida em dificuldade.

Almas caídas numa vida em desgraça,

De sorriso forçado sem qualquer graça.

Alternância com coito rápido e inseguro,

Sujeitas ao que não querem,

À beira da estrada ou por detrás do muro,

A vida “fácil” que não preferem.

Vestidas para matar a saudade,

Vendem o corpo que as consome,

Procurando matar a triste fome

Na ilusão de uma eterna mocidade.

Para onde caminhas alma penada,

Na distância do amanhã tão próximo e distante,

Que te recordará as tantas tristes madrugadas,

No desperdício de uma vida tão inconstante.

 Levar-te-á à perda de tão bela juventude

 Que com o passar do tempo, aos poucos te ilude.

Carlos Cebolo

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ENGANA-NOS A FANTASIA

Engana-nos a fantasia,

Com esse bailado da vida,

Amor sentido em demasia,

É ter essa vida perdida.

O acaso traz seu sentimento,

Na lucidez do seu desejo,

Sentido no sabor do seu beijo,

Talhado nesse aroma do vento.

E se nos engana a saudade,

No passar da vida que corre,

Leva esse tempo a mocidade

E o amor na vida, também morre.

Morre sem sentir o abraço teu,

O aconchego do coração

E sem apertar tua mão,

O desejo que arrefeceu.

E tudo neste mundo acaba,

Como acaba essa fantasia,

Na vida que aos poucos desaba,

Com o amor que não merecia.

Carlos Cebolo

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PERFUME DE FLOR

Um manto verde, vermelhas papoilas,

Ondulando ao vento com suas corolas,

Pintadas com outras flores amarelas,

Formam um quadro de lindas aguarelas.

Rodopiar constante ao sabor do vento,

Num trocar de olhares, mostram o sentimento,

Vivendo a vida num pequeno instante,

Mulher linda de desejo constante.

No sonhar, poder ser como papoilas,

Esse encantado riso das moçoilas,

Ser mulher livre trajando vantagem.

Como as flores, emanam o seu perfume,

E no peito corre um ardente lume,

Ao sabor do vento, colhendo a aragem.

Carlos Cebolo

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FORÇA/FÉ

Ser calmo é quanto importa,

Sentir como quem ama.

Se alguém bater à porta,

Pensar como quem chama.

E se algo acontecer,

Antes do verão passar,

Será o renascer,

Do amor que quer ficar.

Porque tudo é como é,

E assim terá de ser,

Só se consome a fé,

Se na fé se manter.

Nesse mar cor do céu,

Azul como a beleza,

O calmo serei eu,

Com toda essa certeza.

Quem não pensar assim,

É porque não viveu,

O amor que vive em mim,

Ou não o mereceu.

Carlos Cebolo

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ALMA EM POESIA

A perfeição simplesmente não existe,

E tudo se vai aprendendo com o tempo.

Também não existe um único limite.

Essa meta atingida, voa com o vento,

Correndo esses caminhos da própria vida,

Abrindo as asas da fénix renascida.

Nesse oceano, navega o meu pensamento,

Por entre os golpes de onda que o fustigam,

No desfazer das sombras do sentimento.

Ouvem-se frases soltas que nos castigam

As lembranças da juventude perdida,

Traçando o limite dessa despedida.

Se não houver amor, também não há vida.

O nascer apenas nos faz caminhar

Numa aprendizagem constante sentida,
Perfeição onde não é preciso falar.
O fogo do dia abre-se com o pensamento,

E toda a escuridão perde o seu momento.

Carlos Cebolo

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