AQUÉM MAR
Brumas de uma memória selectiva,
Que teimam em esconder essa realidade,
Pelos recantos da vida ainda activa,
Por onde ficou aquela mocidade.
Pau-ferro, pedra ou dureza diamante,
Tempos de glória com esse vigor,
Foi fraqueza desse caminho errante,
Toque cantado com todo o clamor.
Querendo o que não tinha, assim o tenho,
Nessa imagem do meu próprio desejo,
Carrego comigo o meu triste lenho,
Sentido na cruz do que não prevejo.
A solidão que mora no aconchego,
Desse regaço agora enlouquecido,
Fez parar o tempo e o próprio ego
De um pensamento que ficou retido.
E assim se canta alvíssaras ao Senhor,
Cativo de um humano entendimento,
Deixando esse juízo por seu penhor,
Ao mais alto dono do pensamento.
Carlos Cebolo
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