AMOR

Embriagado pelo brilho do teu olhar,

Sorvo o sabor imaginário teu,

Neste mundo enlouquecido que é meu,

Com a inesgotável sede do teu beijar.

No desejo, construo meu pensamento,

Dos fragmentos que o sonho vai deixando,

Nessas conclusões que assim vão passando,

Instantes incertos do sentimento.

Uma parte do que penso, será teu,

No espelho da memória que ficou,

No encanto que minha alma se perdeu.

Moldura imaginada do desgosto,

Onde a luz do teu olhar se fixou,

Cai sobre mim, a sombra do teu rosto.

Carlos Cebolo

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  O TEMPO

No relógio da torre, horas sempre certas,

Na madrugada, as ruas ficam desertas,

Voa o tempo, como voa o pensamento,

A miúda chuva assinala esse momento.

Todo esse tempo, traz o seu sentimento,

Nossa sina traçada com o nascimento

E o senhor do tempo transporta essa ternura,

Como essa chuva enche a terra de verdura.

Fantasmas sem abrigo, circulam na hora,

A saudade com o tempo se vai embora,

Relógios sem o tempo ficam parados,

E todo esse amor se divide em bocados.

E sem piedade, o tempo comanda a vida,

Como senhor absoluto, escolhe a partida,

Seja na húmida noite, ou num quente dia,

A vida sem tempo não será tardia.

Carlos Cebolo

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QUEIXUMES DE UM TEMPO

No ar sente-se os murmúrios de queixume,

Os amantes sentem a falta de acção,

Sem o sabor doce do tal perfume,

O batimento rápido do coração.

Belas rosas murcham no roseiral,

Seu aroma exalado pelo espaço,

O chamamento desse amor carnal,

O sentido gosto desse cansaço.

Olhares trocados nessa suavidade,

A vontade do toque de uma união,

A falta da doce serenidade,

O beijo trocado na ocasião.

O tudo se espera ser passageiro,

Nesse amor velado pela Natureza,
Desse querer sentido e verdadeiro,

O teu doce beijo na incerteza.

Carlos Cebolo

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OLIMPO

No sopé do monte, olho o céu

E o cume do monte se evapora,

Levando esse pensamento meu

E o momento vivido agora

Que me foi assim usurpado,

Foi pelas nuvens arrastado.

O pensamento que foi vivo,

Aos poucos deixou de existir.

Lá no alto apenas o uivo

Do vento se fazia ouvir

E o cume no céu se elevou

E o meu olhar em ti, parou.

A forma divina do Ser,

Que no meu olhar se formou,

Nessa vontade de te ter,

Toda a tristeza se esfumou

E esse momento que foi meu,

Também em ti permaneceu

Carlos Cebolo

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DAS TREVAS SE FEZ LUZ

Já não sonho!...

O sonho é que me tem,

Se tudo que sonhei foi medonho,

Ficou perdido além.

Quando estive no sonho vi,

Não com o terreno olhar,

Num mundo que não vivi,

Mundo secreto e ímpar,

Mas com o pensamento,

Onde a minha mente coabita

E vive o momento,

Noutra visão em que acredita

Ser a outra nossa dimensão,

De um mundo que nos é imposto,

Sem qualquer outra condição,

Tenha ou não um outro gosto.

Nesse medonho mundo,

O Sol escureceu,

As estrelas se apagaram

E num movimento profundo,

A vida se escondeu

E as nuvens se rasgaram.

A lua era sempre nova

E o abismo se tornou céu,

Onde nada se renova

E a natureza se perdeu.

Algo estranho para o meu mundo,

Mesmo sendo paralelo.

Possuído por um sentimento profundo,

Pintei o Sol de amarelo

E tudo aconteceu.

As estrelas brilharam,

O céu azul ficou

E o Mundo renasceu.

As flores apareceram

E toda a viva voltou.

Carlos Cebolo

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OCA VONTADE

Como nuvem que o vento embala,

Na carícia do momento,

Muito mais veloz que essa bala,

Cresce o amor no sentimento,

De tão alegre companhia,

Por onde se esconde a folia.

O luar toca o triste lago,

Na noite de solidão,

Estrelas de Santiago,

Arrebatam o coração

E esse amor que não existia,

Aquece essa noite fria.

Dançam as ondas no mar,

No mar da tranquilidade,

A poesia vai nadar,

Acompanha a mocidade

E na alegria da vida,

Renasce a rosa Florida.

E às vezes quando me afundo,

No pensar que me devora,

Sinto o teu olhar profundo

E no sonhar pela noite fora,

O teu grito de liberdade,

Vazio da minha vontade.

Carlos Cebolo

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A MORTE NÃO É O QUE ERA

A Paz simplesmente desapareceu,

Neste tempo, morrer não é o que era,

Esta pandemia aos poucos esmoreceu,

Mas o medo mantém viva essa quimera.

Todos levam o tratamento desse mal,

O isolamento total sem piedade

E o funeral deixa de ser natural,

Sem despedidas e sem ter dignidade.

Sem memória, essa tristeza se implantou,

A morte, a causa mais natural do mundo,

Na pandemia, ela mais triste ficou.

Se morrer, mesmo de causa natural,

De nada vale o sentimento profundo,

E o funesto acto deixou de ser normal.

Carlos Cebolo

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SE BRILHASSE O SOL

Em tudo o que acontece, deixo o meu reflectido olhar,

Sinto correr a brisa sempre suave no amanhecer,

Não sendo tarde nem cedo, não me deixo adormecer

E neste limiar do tempo, não deixarei de te amar.

Ideais sonhos sonhados deixarão esta escuridão,

Onde o vago temporal sempre foi estranho dentro de mim,

Fazendo esta estrela luzir, num mundo que não tem fim,

Num tocar frenético da alma, aquecendo meu coração.

Houvesse ao menos um sentido para toda esta verdade,

Se brilhasse esse sol que iluminasse na alma a escuridão,

Toda esta verdade, sentiria a nova realidade.

O meu amor por ti, seria sempre eterno e profundo,

Sem a ilusão do sonho que perturba meu coração

E sem o medo criado por um abismo sem fundo.

Carlos Cebolo

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AMANHÃ SERÁ ETERNIDADE

O Sol se porá nesse entardecer,

Outro nascer, virei no teu olhar,

Quando partir e nunca mais te ver,

Desejo não sentir o teu chorar.

Saudades sentidas serão diferentes,

O teu sentir, será recordação,

O meu sentir, será o que tu sentes,

O sonhar será interpretação.

O tempo será eterna saudade,

O hoje, não passa de um passado,

Esse amanhã será eternidade

E todo o amor, será o desejado.

A tua mente não ficará só,

Em ti ficará memória e saudade

E todo o corpo será somente pó,

E o Ser de luz a nossa eternidade.

De ti, nunca estarei eu afastado,

Sempre que o pensamento poisar em mim,

Atento, ali estarei ao teu lado,

Até que o dia, deixe de ter fim.

Carlos Cebolo

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O FUTURO SERÁ CERTO

         (Confinamento)

Meu amor, não estamos sós nesta aventura,

O luar nem sempre transpira paz e amor,

Por onde passam segredos, fica a vil dor,

Neste caminhar, fica a tua ternura.

Neste confinamento, nem tudo é mau,

Na união desta distância, nasce a esperança

De um mundo melhor, de uma nova aventurança,

Traçada pelo timoneiro desta nau.

Aquela voz que se ergue na escuridão

E chama em vão por uma tal liberdade,

Expondo a vida, falando em igualdade,

É irmã da negra e fria solidão.

De tudo, pela vida estarei atento,

Em lágrimas sentidas cantarei meu pranto,

Para amanhã poder viver novo encanto,

Com o zelo que ilumine meu pensamento.

Carlos Cebolo

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DESTINO DE UMA CANÇÃO

Muitos outros terão aventurança,

O fado sentido numa canção,

Os dias fechados em oração,

O sentir do luar numa esperança.

Sente-se essa negra e fria solidão,

A vida de saudade e de inconstância,

Sentida dor na ausência e na distância,

Destino traçado numa canção.

De olhos fechados, oiço a tua voz,

Murmúrios que se erguem dentro de mim,

Luar eterno que não terá fim,

Neste caminhar, não estaremos sós.

No finar da madrugada esse canto,

O canto que lembra essa solidão,

O olhar não serve de consolação,

Só o teu beijar quebrará esse encanto.

Sonâmbulo, procuro esse teu sorrir,

Vislumbro esse horizonte da manhã,

E a noite se tornou assim tão vã,

Esperando por esse teu sentir.

Carlos Cebolo

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   VENDAVAL

O vento sopra toda a solidão,

Vento do leste que traz este frio,

Covil profundo deste calafrio,

Desassossega este meu coração.

Bravia maré de um raivoso oceano,

Na secura do vento se transforma

E a tristeza profunda ganha forma,

Na mente dorida do Ser humano.

Na consciência da vida, a sua mágoa,

Vento do leste teimoso e fecundo,

Transporta as almas para um outro mundo,

Imune a tantos olhos rasos de água.

Vidas ceifadas como folhas ao vento,

Folhas secas misturadas com a areia,

Que o mundo não fazia tal ideia,

E assim perturba todo o pensamento.

Foi tal vendaval que nos abateu,

Que arrancou o chão da nossa existência,

Com horrores sentidos na consciência,

Que a Natureza nos ofereceu.

A quem culpar de toda essa amargura,

Senão, o mal feito na Natureza,

Que querendo proteger sua beleza,

Criou o mal, para se sentir segura.

Carlos Cebolo

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CANÇÕES DE UMA TERRA DISTANTE

Canções de uma terra distante,

São baladas da juventude,

Saudade que é só um instante,

Que a própria vida nos ilude.

E canta a coruja nesse luar,

Canções do alegre anoitecer,

Nas palmeiras à beira mar,

Aparecem gnomos ao amanhecer.

São terras de sonho e saudade,

Com suas fadas e baladas,

Tempos da minha mocidade,

Sonhos e vidas adiadas.

Hoje, noutro mundo distante,

O olhar triste que me acompanha,

Deixa rolar o diamante,

No silêncio da dor tamanha.

E na face se forma esse rio,

De água salgada do meu Ser,

E vencendo esse desafio,

Lembro o lar que me viu nascer.

Carlos Cebolo

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     NOITE

Do silêncio tiras a cobertura,

Almas gémeas, luto em celebração,

Das artes mágicas dessa aventura,

Traças nesta vida outra condição.

Do sonho criado, a mente medita,

O Porquê de tais segredos guardados,

No mundo que a vida desacredita,

Colhendo momentos degenerados.

O encanto dura somente um momento,

A convite da festa a alma se desnuda,

A adrenalina colhe o sentimento

E num segundo, toda a vida muda.

Carlos Cebolo

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OUTRA VIDA

Sem compreender o que faço,

Não atingirei meu fim,

O prazer de um forte abraço,

Abre o Eu que trago em mim.

Diferente do que é o prazer

No sexo de uma união,

O abraço faz renascer,

A esperança no coração.

Na ilusão desta alma minha,

No sentir traço o meu rumo,

Nesta ânsia que em mim caminha,

Anda a vida sem ter fumo.

Para além da vida há,

Outra vida a renascer,

Vida que em nós nascerá,

Quando esta vida morrer.

Se assim não for a esperança,

Esse Éder não nos seduz,

Seríamos sempre criança

E não outros Seres de luz.

Carlos Cebolo

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A DANÇA DA MARIPOSA

No silêncio, vêm dançar,

Tão lindas e tão vaporosas,

Beijam as pétalas das rosas,

Lindas e alegres mariposas.

Soltam pelo ar seu perfume,

Lindo minuete da saudade,

Renovam essa mocidade,

Nos salões de um velho costume.

Ritmos e cantares do momento,

Som que chora nessa ilusão,

Dançam ao ritmo da solidão,

À espera de outro sentimento.

Essa flor que com a brisa treme,

Vendo a juventude fugir,

No esforço procura sorrir,

Colhendo o momento solene.

Assim passa sozinha ao frio,

Desse tempo que se esgotou,

Esse tempo que outrora amou,

Deixou seu coração vazio.

Carlos Cebolo

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TOQUE DE LUAR

Nas horas incertas pela picada,

Corpo coberto de pano colorido,

Vai a mulata sem a veste sonhada,

Ao encontro do seu amor proibido.

Sobe no horizonte a prata do luar,

O manto de estrelas que sorriam,

Por ver a beleza no seu caminhar,

Na picada que outros percorriam.

O suave vendo, é flauta que delira,

Fauno que a toca está enamorado,

Dessa tal beleza que nunca expira,

Mulata de Angola, sangue cruzado.

No silêncio da noite, o seu cantar,

A canção suave, sonho de criança,

Com passo firme vai seu caminhar,

Sabendo que o amor, só a desencanta.

Carlos Cebolo

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