Acerca de mim

A minha foto
Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sábado, 15 de maio de 2010

MINHA TERRA MINHA GENTE III - MOÇÃMEDES

Tinha prometido a mim mesmo, não voltar a falar de Angola no meu Blogue, mas a força daquela terra vermelha, aquele cheiro a café e a caju, levou-me a quebrar a minha promessa. Assim, resolvi hoje falar um pouco da cidade onde nasceu o meu pai e que eu também a considero como minha. A princesa do Namibe como Moçãmedes era justamente chamada, é uma cidade que nasceu para separar a Mar do Deserto e que os seus habitantes souberam acima de tudo, impor a vontade humana à grande força da Natureza, fazendo das áridas areias do deserto, terra de cultivo produtivo. Apesar da cidade estar plantada em pleno deserto, não havia qualquer quintal sem a sua horta, onde se cultivava um pouco de tudo e com alta qualidade. O tempo que vivi nessa maravilhosa cidade do Namibe, residi em casa do meu avô paterno, numa vivenda situada mesmo em frente do famoso Bairro chamado Sanzala dos Brancos. Meus pais viviam em Vila Arriaga e mandavam caixas com mangas e imbondeiros que o meu avô vendia no próprio quintal para assim ajudar a custear os meus estudos e de mais dois irmãos meus. Meus pais não eram ricos e o meu avô era enfermeiro reformado. Assim todo o dinheiro que se conseguisse angariar era pouco. No quintal do meu avô, nas poucas videiras que tinha, colhia-se cachos grandes de uvas, que em nada ficavam a dever às da metrópole. Em Algumas ruas da cidade havia oliveiras com azeitonas que vinham contrariar a política de então, que dizia que em Angola a Oliveira não se dava e que o azeite teria de ser exportado da Metrópole. Quem conheceu Moçãmedes, sabe bem que isso não era verdade e que nas hortas junto ao rio Bero, principalmente nas hortas chamadas do Torres e, na do Benfica, havia azeitonas de alta qualidade, além de outras frutas, das quais destaco os maravilhosos manguitos. Por ser uma cidade banhada por um mar maravilhoso, Moçãmedes era acima de tudo uma cidade que vivia essencialmente da indústria pesqueira espalhada pelas diversas praias, das quais destaco a Praia Amélia, o Baba, Baía das Pipas, Chapéu Armado e Saco Mar que nas últimas décadas se desenvolveu bastante, à custa do terminal ferroviário e do seu Porto marítimo para navios de carga de alto porte que escoava o minério de ferro proveniente das minas de Cassinga, principalmente para a Alemanha e Japão. Os habitantes mais antigos ainda vivos, lembrar-se-ão certamente do rústico mercado de peixe esculpido na rocha argilosa à beira mar, que fazia do Namibe um lugar único e maravilhoso. Apesar de estar situada no deserto, a água potável nunca faltava nas torneiras das casas, pois os seus habitantes, souberam fazer de um lugar seco e árido, um lugar aprazível à vida, com todas as comodidades próprias de uma cidade em pleno crescimento. Sim, digo pleno crescimento, porque era na realidade isso que estava a acontecer em Moçãmedes. E o mais interessante é que em vez de crescer em direcção oposta ao deserto, era precisamente ao contrário. Entrava pelo deserto a dentro, acompanhando sempre a orla marítima. No carnaval via-se como esta cidade era animada e bairrista. Vivia-se o carnaval em festa! uma festa saudável onde toda a gente brincava. Havia os tradicionais combates com flores, água e saquinhos com farinha que se atiravam uns aos outros, entre carros alegóricos dos diversos bairros dos quais aqui apenas vou salientar os mais conhecidos e emblemáticos, como a bairro da Facada, o bairro da Aguada, o bairro da Torre do Tombo, o bairro do Benfica, o bairro do Mucaba e naturalmente o famoso Sanzala dos Brancos, que tinha ao fundo o moderníssimo cine Impala. Quem não se lembra das lindíssimas furnas junto ao aeroporto e que muita gente dizia ter ligação com o vulcão do Iona, “tese não comprovada” que muitas brincadeiras proporcionaram aos seus habitantes mais pequenos e traquinas e refúgio seguro aos pares de namorados. Quem nunca provou os maravilhosos caranguejos das hortas que se comia no Mamede da Aguada, não pode dizer que conheceu Moçãmedes. Em Março eram feitas as famosas festas da cidade conhecidas pelo Slogan Moçãmedes, Mar e Março. Embora os meses mais quentes fossem Janeiro e Fevereiro, era em Março que a praia das Miragens se enchia de gente, principalmente proveniente do Lubango. Da secular fortaleza onde estava instalada a Polícia, via-se o lindíssimo e enorme jardim marginal ou das arcadas, que ocupava quase na totalidade a baixa da cidade do Namibe. Um lugar verdadeiramente aprazível, onde os “cabeça de Pungo” gostavam de dar o seu passeio dominical que normalmente acabava com uma paragem quase obrigatória na cervejaria Avenida, junto ao cine Moçãmedes. Era à volta desse maravilhoso jardim onde o velhote Faria, também conhecido pelo o homem do saco deambulava todos os dias com o seu saco às costas, que se realizava as famosas corridas de automóveis, onde além de outros nomes sonantes, como Santos Pêra, Emílio Marta, Zé Caputo, destaco com inteira justiça o de Henrique Ahrens de Novais, sempre aplaudido como ídolo de Moçãmedes, que com o seu porsche fazia maravilhas. Sem sombras para dúvidas, aos três M mais famosos de Angola, que caracterizavam esta cidade, eram as iniciais de Moçãmedes, Mar e Março e aqui com inteira justiça, acrescento mais um, o de Mulheres bonitas e que me perdoem as outras mulheres não menos belas, apenas aqui lembro a Olga Reis, a Celina Bauleth (Riquita), Lurdes Pinto, Paula Turra e Lídia Ferreira. Não nasci em Moçãmedes, mas foi nessa cidade que iniciei os meus estudos secundários na Escola Industrial e Comercial Infante D. Henrique, por isso, quando me chamam cabeça de Peixe ou cabeça de Pungo, diga sempre. Com muita honra!... Zona balnear por excelência, o mar de Moçãmedes, tinha águas cristalinas que permitia ver as lagostas a andarem no fundo de área fina, mostrando assim a enorme riqueza que aquele mar proporcionava aos seus habitantes. A praia das conchas, onde se apanhava as magnificas ostras e os suculentos mexilhões, era outro lugar alternativo à praia de banhos, para quem apenas procurava apanhar um pouco de iodo de uma forma divertida e saudável. Aqui aproveito para fazer um apelo aos Moçamedenses. Nunca se esqueçam do convívio anual nas Caldas da Rainha que se realiza no primeiro fim-de-semana de Agosto. Não deixem morrer esta tradição.

Sem comentários:

Enviar um comentário