INVENTO-TE

Invento-te neste meu caminhar,

Tristeza, condição deste meu Ser,

De um tempo sem tempo no desejar,

Tocam sinos no novo amanhecer.

Invento-te nessa imaginação,

Coberta de luz desse intenso luar,

Teus dedos cruzados na minha mão,

Meus lábios poisados no teu beijar.

Invento-te nesse raiar de esperança,

Num sono solto deste meu sonhar,

Momentos alegres de uma mudança,

O sorriso teu que quero guardar.

Invento-te nas pinceladas de cor,

Sentidos retidos no pensamento,

Sorvendo do teu corpo esse calor

Que embeleza todo o nosso momento.

Invento-te em curvas tão sensuais,

Sentidas nesse meu grande desejo,

Também comum entre todos os mortais,

Em sentir nos meus lábios o teu beijo.

Carlos Cebolo

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RENOVAÇÃO

Nesse prado amarelado sem flores,

O frio impede a rotação da imagem

E as nuvens escuras seguem em viagem,

Mostrando o tédio com os seus horrores.

Ouve-se o silvo desse vento outonal

E as borboletas morrem à tardinha,

Expondo a viuvez do ciclo invernal,

Sem o sol, na noite que se adivinha.

Tudo é nada e esse nada é não ter vida,

Num silêncio surdo que faz sofrer.

Visa-se o túmulo agreste da partida,

No desespero de quem quer viver.

No labirinto desse pensamento,

Tolda de sombras a face serena,

Naquela imagem que colhe o momento,

De na vida, tudo valer apena.

E o inverno que vem, também por cá passa

E a primavera acaba com a desgraça.

Carlos Cebolo

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INVOCAÇÃO

Leva-me longe este meu pensamento,

Sentindo nele, mágoas e desejos

E temores constantes dos frios brejos,

Constante repetir do encantamento.

Por entre os sonhos e outros tormentos,

Numa outrora vocação que se erguia,

Sente esse amor, só vivido em poesia,

Num murmúrio deixado em pensamentos.

Porque tardas, esperança desejada,

Em aparecer, neste encanto meu,

Adormecido junto de Morfeu,

Como uma ninfa desta vida adiada?

Já repeti velhos ensinamentos,

Da deusa da fortuna em oração,

Mas tarda em estender-me a sua mão,

Na angústia que provoca este tormento.

Dourado Sol desta nossa incerteza,

Prateada lua e seu encantamento,

Serão invocados nesse momento,

Em toque sublime de tanta beleza.

Carlos Cebolo

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DE NOVO RENASCER

Sol madrugador que ilumina o dia,

Num florir frio desta Primavera,

Com toda essa seca que desespera,

Sem a chuva miudinha que vem tardia.

Num rasgar de um redondo movimento,

Sopra o frio vento sem ser agreste

E o campo com manto verde se veste,

Num chirriar constante deste momento.

Quanta igual mocidade fez a glória,

Desta estação do amor que nos engana,

Com seus segredos de uma mente insana,

De um passado escondido na memória.

E renasce a vida neste Planeta,

Que nos acolheu com amor e virtude,

E que aos poucos nos retira a saúde,

Renovando as cores da sua paleta.

Com esse arco-íris assim tão bem trabalhado,

Pinta a dor com que a vida se alimenta,

A dor com que a juventude se ausenta

E todo esse sofrer, será lembrado.

Carlos Cebolo

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CONTRA MÃO

Lá longe onde se encontra a beleza,

Na terra com lindas palmeiras,

Estrelas brilham na incerteza.

Minha terra foi meu encanto,

Aquele som triste das palmeiras,

Abafa o Sabiá com o seu canto.

Nela se esconde o pensamento,

Entre noites de grande encanto,

Onde em tudo fiquei atento.

Mais prazeres, encontrei por lá,

Justificando hoje, esse pranto.

Momentos que não encontro cá.

Naquelas noites de luar,

Olhando o encanto das palmeiras,

Senti o gosto em namorar.

E a juventude foi levada,

Levou com ela as brincadeiras

E a vida ficou desgastada.

Carlos Cebolo

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SER PAI

Ser pai é ser inteiro,

Orientador,

Companheiro,

Protector.

Para ser pai não basta ter,

Procriar,

Querer e fazer,

Tem de saber amar.

Ser pai é compreender,

Sossegar,

Minimizar o sofrer

Acariciar.

É ser luz na escuridão,

Esperança na tristeza

Calmaria na sofreguidão,

Do nada fazer certeza.

Ser pai é estar presente

Nas horas de aflição,

Não é gritar,

Bater

Ou castigar.

É corrigir,

Proteger,

Ensinar.

Saber sorrir

E não esmorecer.

Ser pai é ser verdadeiro

Cais de abrigo,

Porto da salvação.

Na protecção ser o primeiro,

O fiel amigo,

Símbolo da união.

Carlos Cebolo

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RECOMEÇO

O vácuo na doença do pensamento,

Essas angústias de um pequeno nada

Que marcam todo o tempo no momento,

Desaparecem no abrir da madrugada.

O raio dourado ilumina a mente,

Naquele cais onde a memória se abrigou

E a vida surge assim alegremente

E o sonho para lá da noite ficou.

Esconde-se a tristeza desse passado,

Nessa manhã daquele desabrochar

E o espírito do Rei Sol é convocado,

Para iluminar todo esse caminhar.

Mente aberta nesse diurno chão,

Para viver o amor com a sua altivez,

Transforma o chorar numa outra canção

E a vida feliz, alcança a sua vez.

Carlos Cebolo

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CALMARIA

Uma a uma, formam o seu movimento,

Apressadas atingem a arenosa praia,

Naquela crista alva mostra o lamento,

No seu enrolar, aos poucos desmaia.

E na praia, funde-se com a areia a alva espuma,

Para lá do mar, levam as suas lembranças,

Sopra o vento escondido pela bruma,

Num baloiçar, ritmos de várias danças.

No ar, por entre as nuvens escurecidas,

Aparece a lua com o seu brilhar,

Tingindo de prata as ondas escondidas

E o Sol intensifica o nosso amar.

Carlos Cebolo

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DIÁRIO DA SAUDADE

Este vento levou o pensamento,

Na tristeza de pura poesia,

No olhar, lágrima de sofrimento,

Onde o poeta chora de alegria.

Naquela tristeza da saudade,

Sem falar ou ouvir o que sentia,

Sofre o poeta nessa actividade,

Escreve o que não sente em poesia.

Prevê todos os males do mundo,

Corações na ânsia do sofrimento,

Emoções sentidas bem profundo,

Traça linhas de alheio lamento.

Chora o poeta as mágoas da amizade,

No sofrer do seu imaginário,

Relembra o fervor da mocidade,

Em linhas traçadas nalgum diário.

Esse diário da sua saudade,

Tempos passados dum grande amor,

Na frescura sem eternidade,

Que a vida levou, deixando a dor.

Carlos Cebolo

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UMA OUTRA ATITUDE

Sempre mudo, fala-me o coração,

Sem compreender tamanha violência,

Na culpa da desculpa esse perdão,

Só sentido na idade da inocência.

O uso confuso desse pensamento,

No género aceitar a igualdade,

Grandes horas na insónia do tormento,

Sempre a gritar pela eterna liberdade.

Assim cismo que o nada será tudo,

Por este mundo de eternos conflitos,

Procuro ouvir esse meu grito mudo,

Abafado nesses ruídos aflitos.

Na sombra de tão rude natureza,

Onde a própria mágoa se torna em dor,

Procuro caminhar na incerteza,

Desse nada ser tudo com amor.

Carlos Cebolo

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CATARINA EUFÉMIA

(Dia Internacional da Mulher)

O deserto floresce na humana mente,

Esse mistério que o homem não alcança,

Tendo na ignorância a própria semente,

Deturpando os direitos de uma aliança.

Passam os tempos, passam anos e dias,

Da inglória luta que se vai travando,

Nesse Baleizão e outras simetrias

Onde a ceifa voz se foi levantando.

E assim surgiu a doce Catarina,

Pedindo trabalho, pão e igualdade,

A ceifeira exposta à carnificina,

Foi morta gritando por liberdade.

Esse internacional dia lembrado,

Com mulheres pedindo por liberdade,

Foi o sonho de Catarina adiado,

Mas não esquecendo essa necessidade.

É tempo de promover a mudança,

Lembrando essa ceifeira Alentejana,

Nas poucas vitórias que o povo alcança,

Será a mulher, sempre soberana.

Carlos Cebolo

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VERDE NATUREZA

O bom povo à terra reza,

Reza a todos os santos e santas,

Para cuidar da Natureza,

Cuida e rega as suas plantas.

Plantas que cuidam de nós,

À mesa se quer saladas,

Dito dos nossos avós

Regras que foram ensinadas.

Cultura desses rebentos,

Primeiros da Primavera,
O verde nos traz alentos,

Na vida que não é severa.

Outros tempos e outras Eras,

Fez Noé a sua barca,

Esperou pela Primavera,

O verde que a pomba abraça.

E este Mundo assim sorriu,
Verde que a Natureza tem,

É amor que assim surgiu,

Será meu e de mais ninguém.

Carlos Cebolo

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SONHOS NAUFRAGADOS

Quantos sonhos naufragaram,

O néctar com gosto a fel,

Lindo barco de papel,

Que as ondas do mar levaram.

Eu próprio os fiz naufragar,

Sem cuidado e trapalhadas,

Minhas mãos sinto molhadas,

Com o sabor da água do mar.

E de longe chamo o lamento,

De papel o barco feito

E tudo ficou sem jeito

Estragando esse momento.

No chorar, a solidão,

Dos sonhos que naufragaram,

Também outros lá chegaram,

Levados por minha mão.

Carlos Cebolo

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AMA-SE VIVENDO

Os sonhos já se apagaram,

Se apagaram as tristezas,

Sois e rosas das belezas,

Que os próprios sonhos levaram.

São tantas estrelas no céu,

Que não se podem contar,

São gotas dos olhos teus,

Quando te faço chorar.

Correm pétalas pelo chão,

Num bailado ao desafio,

O futuro é assim sombrio,

Na palma da tua mão.

São alegrias que tive,

Amores da minha tristeza,

Neste mundo de incerteza,

Sem esse amor não se vive.

Nascem rosas no jardim,

Vermelhas e de outra cor,

São rosas lindas de amor

Que alimentam esse festim.

Carlos Cebolo

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