NOITE DE BATUCADA –
RENOVA-SE A ESPERANÇA
Cai a noite é com ela o silêncio triste…
Um delírio febril atinge a sanzala
Com aquele chorar do quissanje
Que a pura alma não lhe resiste.
Gemem as marimbas em mãos ágeis
E aquele feminino corpo se embala
Na perfeita melodia que o batuque tange.
Ondulam as palmeiras nervosas e gementes,
Ao ritmo daqueles corpos quentes
Das virgens que nessa fortaleza, são frágeis.
Sangra a virgem aquele vermelho lume
E entre aquela gente, não há ciúme
Que faça sofrer um jovem coração.
Raça triste que se mostra sempre alegre
E a negrura da pele se confunde com a escuridão,
Como toda aquela alegria, só faz esquecer a escravidão
Do passado presente que o mundo ignora.
Povo submisso a seus iguais, no íntimo de raça brava,
Dança ao som voluptuoso da música escrava.
É noite de batucada com toda aquele desventura,
Onde a virgem oferece o seu corpo na noite escura.
Naquele bailar estonteante que enaltece a raça
De um povo que a própria doçura abraça.
Nas noites quentes do sertão,
Aquela chuva que molda o pano
À escultura corporal que abraça o coração
E naquele desespero sentido, ilude o próprio engano.
Por entre as sombras tristes das grandes palmeiras,
Arrepia o caminho, imitando as trepadeiras.
Prossegue o batuque pela quente noite fora
E já com aquela dormência da luxúria que desmaia,
Adoram a noite que aos poucos se vai embora.
Nasce o dia de uma nova aventurança
E aquele povo sente novamente a velha esperança.
Carlos Cebolo