SILÊNCIO QUE MATA
Não sei quem sou!...
Não sei quem és!...
Este silêncio…
Aos poucos mata.
Tudo passou,
Não sinto os pés,
É só silêncio
Da vida gasta.
Olho este céu,
Noite estrelada
No escurecer,
Sempre vazia.
Já nada é meu.
Uma outra estrada
No amanhecer
Sem ter magia.
E quem és tu?
Senhora velha.
Chamas-me pai
No teu sorrir.
Tenho o olhar cru,
Deus me valha!...
Nada me sai
Neste sentir.
Carlos Cebolo
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ALMA DE UM POVO
Lá longe, na sanzala norte,
Ouvindo o batuque no ar,
Som feiticeiro e sedutor,
Muitas vezes chamando a morte,
Quando a vida não quer ficar,
Nesse tempo cheio de dor.
Não deixes que te toquem na alma,
Menina negra de encantar,
Que no teu corpo tens a graça.
Toma a esteira na noite calma,
Abre os teus olhos ao luar,
Afugenta a tua desgraça.
Em ti, as noites são sensuais,
Por lençol tens folha de palma,
Por esperança tens sonho findo
E esses sonhos são imortais,
Talhados no teu corpo e alma
Que nessa vida vão caindo.
A alma negra tem seu sentido,
Tem silêncios na madrugada,
Som do batuque desflorando.
No peito coração partido
E toda a magia quebrada,
Enquanto o corpo vai bailando.
Carlos Cebolo
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VIVE-SE NO CORPO A
SAUDADE
Algo nesse teu olhar ainda me ama,
O desejo ardente que por ti chama,
São lágrimas soltas da melodia
Que oiço como sinos na hora tardia.
Vai-se vivendo no corpo a saudade,
No esperado grito de liberdade,
Nesse esvoaçar das almas despidas,
Unidas nessas volúpias sentidas.
Chama trémula do amor que se desfaz,
Na loucura que já não satisfaz,
Disfarçando a incógnita liberdade,
Sentida nas horas sem piedade.
Carlos Cebolo
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VOZ DÉBIL
A chamar por mim, oiço a tua voz,
Como se pregasse pelo deserto,
Voz débil do teu pensamento incerto,
Que encobre o desejo instalado em nós.
Colhe-se esse tempo que por nós passa,
Na busca de suspender a amargura,
Sem projetar luz nessa noite escura,
Carregando com ele toda a desgraça.
Suspiros mudos como a tua fala,
Projetam em mim, esses teus gemidos,
Sons tristes que me perfuram os ouvidos,
Com o desespero que a tua alma exala.
Passa o teu pensamento sem me ver,
Nas noites em que te atormenta o sono,
Ultrapassa o meu sonhar esse outono,
Encarando todo este teu sofrer.
Carlos Cebolo
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FEITIÇO DE UMA TRADIÇÃO
Lá bem longe, ouve-se o som do quissanje,
O ritmo do batuque que toca a alma,
Fervilha pelos corpos esse sangue
E lágrimas sotas na noite calma.
Na voz, o surdo grito que se sente,
Esse sabor a fumo das queimadas
E o próprio dia acaba de repente,
Dando lugar às quentes madrugadas.
A mufico deixa de ser menina,
Nesse ritual próprio da puberdade
Que aquela vida africana lhe ensina
Viver assim, a sua mocidade.
Não há feitiço, nem céu, nem inferno,
Os costumes não traçam o seu fim,
O som do batuque será eterno
E a saudade ficou dentro de mim.
Carlos Cebolo
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ANTIGA OU NOVA
ORDEM
O Olimpo se desfez na madrugada,
Essa ilusão de uma nova realidade,
Sem sentido na vida desgastada,
Não atinge o sonho da eternidade.
Os deuses dissipam-se na noite clara,
E num movimento desenraizado,
Sentem a dor que a humanidade ampara,
Desvendando esse segredo guardado.
Rompendo as fronteiras do divino,
Desaparece o Olimpo entre o céu e o inferno
E mandou Deus à terra o seu menino.
Nova ilusão do humano semideus,
Que no Sul é verão, no Norte inverno,
Na fé do seio virgem onde nasceu.
Carlos Cebolo
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MAGIA DA VIDA
A vida é feita de magia,
Inquietação e nostalgia,
De alegria e de alguns cansaços,
Também de certezas e lapsos.
Roda este tempo sem parar,
O amor por ti, veio para ficar,
Retido no meu coração,
Neste mundo de papelão.
São ondas que batem na areia,
Nesse clamor de maré cheia,
As palavras da minha boca,
Que te atingem, pondo-te louca.
E se tudo for fantasia,
O mar será só maresia
E lágrimas do teu olhar,
Por onde eu irei caminhar.
Carlos Cebolo
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RÍTMO ANTIGO
Lá bem longe, na terra onde nasci,
Onde havia o ritmo dos pés descalços,
Também descalço andei e lá cresci,
Deixando lá ficar os meus pedaços.
São sons com uma certa repetição,
Na sanzala ouvidos como um chorar,
Ouvidos na noite pelo sertão,
Iluminados pela luz do luar.
São mágoas cantadas desse chorar,
Ao som do batuque nessa magia,
Que hoje aqui, me proponho recordar,
Sem sentir no ar, aquela alegria.
A carapinha dura em pele macia,
Cor da noite que a lua iluminava,
Aquela paixão que a deusa temia,
Não sentir na esteira onde se deitava.
Carlos Cebolo
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LABIRINTO DA VIDA
No labirinto da vida,
Vagueio devagar,
Como se o dia que tarda em acabar,
Esperasse no tempo a despedida.
Na noite que se adivinha,
Olho a liberdade.
O sol deixou de ter a hostilidade
Mas conserva o conforto que mantinha.
Perco-me no labirinto,
Respirando aquele vento,
Colhendo palavras em movimento
E todo esse sentimento que sinto.
Nostalgia e sensações,
As raízes lembradas,
Outras partes das vidas adiadas,
Só desânimo e lamentações.
No sonho, essa eternidade,
O tempo não tem fim,
Talvez fosse a noite a chamar por mim
Ou a vida a chorar a mocidade.
Carlos Cebolo
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DIGNO CAMPEÃO
Se um dia sentires uma ânsia diferente,
Não olhes para trás, diz antes presente.
Segue em frente no novo renascer,
Que a glória fica em quem a merecer.
Não interessa o tempo dessa vã glória,
Vencer com dignidade faz história
E o Sporting cumpriu com a tradição
E contra tudo, tornou-se campeão.
Claridade numa noite presente,
Fortes cânticos que o coração sente,
Depois do salão veio o onze da vitória
E o Sporting aumenta a sua história.
Carlos Cebolo
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A SAUDADE FIXADA
NO TEMPO
Com o passar do tempo, tudo se corrói,
Tempos nostálgicos de inquietação,
São momentos que aos poucos se constrói,
Pensamentos e factos em confusão.
São teus dias gastos sem liberdade,
Que nesse passar se sente o cansaço,
Nesse viver longe da mocidade,
Rugas no rosto e teus membros lassos.
Por entre o tempo e o espaço se caminha,
Com o olhar fechado nessa saudade,
Numa nostalgia que se adivinha,
A ausência sentida da felicidade.
E nem tudo um dia se acabará,
Fica eterno o tempo sempre presente
E a esperança que em ti renascerá,
Com esse passar que a vida consente.
Carlos Cebolo
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SORRISO TRISTE
Não podendo falar, sorrio,
Neste mundo triste e sombrio,
Tudo se torna idealizado,
Tudo menos o ideal sonhado.
Em menino sempre sorri,
Todos os meus receios temi,
Risos com lágrimas deitadas,
Os grandes e pequenos nadas.
Sem o crer, só de mim descreio,
Descrer sem saber de onde veio
Este meu fado e desatino,
Lembro esse tempo de menino.
Bebi minhas águas salgadas,
Lágrimas que foram choradas
E soltas desse meu olhar,
No sofrimento por te amar.
Carlos Cebolo
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SERÁS ETERNO
Acaba a vida num pequeno instante
E todo o dia, tudo se acaba um pouco,
Tudo no mundo se torne inconstante,
Mas só o amor deixa este mundo louco.
Na dúvida e no desejo somente,
Se provoca a morte de um grande amor,
Abriga-se a inveja como semente
E a flor que nasce só provoca a dor.
Mas quando se perde o medo de sofrer,
Quando o amor que sentes não for efémero,
Quando essa dúvida desaparecer,
Então sim. Nesse amor serás eterno.
Carlos Cebolo
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TUDO SE RENOVA
Perde-se novamente a liberdade,
Vem a cinzenta noite ao fim do dia
E este caminhar lembra a mocidade
E toda a febre que o corpo sentia.
No início da manhã, tudo se renova,
O calor de outrora não é sentido,
De mãos dadas, colhe-se essa vida nova
E o tempo passado não é esquecido.
Hoje, recordo-te com a alma consumida
Pela saudade que ainda me ilude,
Colhendo sensações daquela vida.
Abro a janela e deixo o sol entrar,
Com ele, a lembrança da juventude,
Formando lágrimas no meu olhar.
Carlos Cebolo
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NEGRUMES DA VIDA
Vou marcando os espaços da tua vida,
Vejo no olhar teu, um novo fulgor,
Aquele brilho de uma vida ferida,
Sem Alma que provoca tanta dor.
Brilha no teu olhar essa esperança,
Da roseira brava que quer ser flor,
Como esse olhar eterno da criança,
Nesse desejo de encontrar o amor.
Vida mendiga que quer ser rainha,
Nas noites de luar manténs a distância,
Colhendo na alma a beleza que mantinha.
Por outros beijos tens essa ansiedade,
Caminhas procurando a tua infância
E no tempo não vês a claridade.
Carlos Cebolo
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MADRE ETERNA
Perto do teu silêncio estou presente,
Presente estarás em nossa memória,
Não sei se me ouves com essa voz ausente,
Mas sei que será eterna a tua glória.
Deste-me asas para sozinho voar,
Seguindo o caminho por ti traçado,
Sem ti, o voar deixa muito a desejar
E o teu carinho em mim, ficou guardado.
Perturbas o tempo com essa ausência,
Oiço a tua canção no pensamento
E dentro de mim, guardo esse momento.
Do teu ensinar, guardo essa ciência,
Querer e lutar com a força do crer,
Todos os bons momentos nunca esquecer.
Carlos Cebolo
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