Angola minha terra triste.
Junto com o meu homem tenho duas meninas.
Que tristeza!...
Se fosse filho homem, tudo era diferente.
O homem pastoreia o gado, vai à caça,
Arranja comida para a família!...
Arranja comida para a família!...
A mulher apenas cuida da agricultura,
Do "arimbo"...
Do "arimbo"...
Cria os filhos e faz comida para o marido.
Na loja do branco, o nosso boi pouco vale!...
A fuba é cara e o sal ainda mais.
Uma quinda de milho da nossa lavra,
Troco por uns quilos de farinha e alguns peixes secos.
Troco por uns quilos de farinha e alguns peixes secos.
Não dá para comer até à lua redonda seguinte.
Mas o que fazer?
Minha terra seca,
Pouco dá.
Pouco dá.
A água é das chuvas e agora pouco chove.
Parece que o branco controla também a chuva,
A nossa vida, a nossa terra!...
A nossa vida, a nossa terra!...
As minhas meninas passam fome.
O leite da minha mana está seco.
O das vacas! os bezerros pouco bebem.
Do leite fazemos leite azedo que nos alimenta
E o bezerro fica magro.
E o bezerro fica magro.
Vendido na loja do branco vale pouco.
Só tem ossos diz o branco.
Vale cinco garrafões de vinho.
Vale cinco garrafões de vinho.
Aceito.
O vinho faz bem à nossa cabeça.
Faz esquecer a tristeza, a fome, a miséria.
Faz esquecer a tristeza, a fome, a miséria.
O vinho é bom. Vem do Puto.
Na minha terra triste apenas há vento.
Chuva pouca e muita dor.
Chuva pouca e muita dor.
Minhas meninas têm fome.
O branco leva para criar.
Vai servir de companhia à filha do branco.
Vai servir de companhia à filha do branco.
È criada do branco, mas não passa fome.
Meu coração sofre com a partida
Mas aceita e fica feliz por saber que estão vivas
E não têm fome.
E não têm fome.
O branco é bom. Toma conta delas.
Crescem e não sabem quem é a família.
Crescem e não sabem quem é a família.
Apenas são criadas do branco.
Muitas dão netos aos brancos!...
Os filhos dos brancos são acolhidos como netos,
As mães negras abandonadas à sua sorte.
As mães negras abandonadas à sua sorte.
Vadia! Quem te manda meter com o meu filho?
Vai-te embora e não apareças mais,
Grita o branco.
Vai-te embora e não apareças mais,
Grita o branco.
As crianças crescem!...
Apenas conhecem a família branca.
Apenas conhecem a família branca.
Os avós negros são esquecidos.
Apenas são filhos do branco.
Apenas são filhos do branco.
Minha terra triste chora!...
Dor sentida mas não reclamada.
A independência chegou.
Os brancos foram embora.
Levaram também os nossos filhos.
Levaram também os nossos filhos.
A alegria do momento,
Depressa se transforma em agonia.
Depressa se transforma em agonia.
O patrão agora não é branco!...
É negro como nós.
Mas não é de cá!...
Veio de outras terras.
Mas é quem manda.
Mas é quem manda.
Tomaram conta das lojas dos brancos,
Mas ali não se vende nada.
Nada há para se comprar.
Mas ali não se vende nada.
Nada há para se comprar.
A fome continua.
O nosso milho ninguém compra.
Peixe seco não há!...
Farinha, temos nós que moer o milho para fazer o pirão.
O branco foi embora, mas a miséria ficou.
No tempo do branco, dizem os mais velhos:
- As lojas tinham tudo. Era caro mas havia.
Hoje nada há.
Hoje nada há.
Os nossos filhos eram criado dos brancos,
Mas não passavam fome!.
Mas não passavam fome!.
Hoje os nossos filhos são criados dos negros .
Nosso povo continua na mesma ou ainda pior.
O negro do norte é quem manda
E é ainda pior que o branco.
E é ainda pior que o branco.
Minha terra triste chora.
Dos meus olhos saem lágrimas de sangue
E água salgada,
Mas o sal não chega à nossa cubata.
E água salgada,
Mas o sal não chega à nossa cubata.
O mar fica longe e o branco já cá não está
Para trazer o sal.
Para trazer o sal.
O nosso boi nada vale
E também não há quem o queira trocar por comida.
E também não há quem o queira trocar por comida.
Minha terra triste está cada vez mais triste.
Nas vilas e cidades vejo muitos negros.
Mas não são de cá.
Ninguém os conhece.
De onde vêm? Quem são?
Ninguém sabe.Não falam a nossa língua!...
Mas não são de cá.
Ninguém os conhece.
De onde vêm? Quem são?
Ninguém sabe.Não falam a nossa língua!...
Esperamos a vinda do branco, mas ele não volta mais.
Minha terra triste está cada vez mais triste.
E os nossos filhos continuam com fome.Carlos Cebolo
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