QUANDO CRESCER

 

Quando crescer traçarei o meu destino,

Seguirei por um caminho diferente,

Voltarei novamente a ser menino,

Esse bichinho alegre e inconsciente.

 

Quero votar a sentir teu carinho,

Beijar teu rosto sempre sorridente,

Nesse teu colo fazer o meu ninho,

Poder-te chamar de mãe simplesmente.

 

Quando crescer, lembrar-me-ei de ti,

Do teu amor, do teu grande carinho,

Esquecer tudo aquilo que sofri,

Na atura em que me deixastes sozinho.

 

Carlos Cebolo

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BELOS TEMPOS

 

Já vivi num outro tempo encantado

E plantei flores num vasto jardim.

Por lá cresci e fui abençoado

E a minha terra não saiu de mim.

 

O Horizonte ficava opalizado,

Naquele espelho de fogo sem fim,

Entre fios de ouro e prata bordado,

Nascia a noite com tons de carmim.

 

Nessa linda terra quente e bravia,

O amor vivia a sua liberdade

E aquele som de luar que à noite se ouvia,

Aumentava o fervor da mocidade.

 

Carlos Cebolo

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ENCRUZILHADA

 

Percorri mundos diversos em sonhos,

Em todos tracei caminhos sentidos,

Do meu corpo, pesadelos medonhos,

Tracei mapas, sentidos invertidos.

 

Histórias contadas na orla da vida,

Teu corpo de boneca doce e triste,

Na ilusão dessa dor por ti sentida,

Há outra alegria que em ti existe.

 

Esse abrigo a partir do qual te amava,

Solidão, silêncio na encruzilhada,

Onde o sonho a própria vida apanhava,

Entre o viver e a morte, encurralada.

 

Carlos Cebolo

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    ABC DA CRIANÇA

 (Fins sem justificação)

 

No teatro da vida tudo se perde,

Madeira que talho com um canivete,

São lápis e livros para ir à escola,

Nesse tempo finito que não cede,

Mas que a vida aos poucos assim promete,

Tudo caber dentro de uma sacola.

 

À criança é dado essa honra de herói,

Os quilos que carrega ninguém vê,

A brincadeira se torna uma ausência,

No mundo que ao seu redor se constrói,

Sem ninguém saber ao certo o porquê,

De se perder assim a inocência.

 

Português matemática e história,

Tudo lhe é ensinado sem enredo,

Como se não houvesse outro destino.

Aos sete anos é dúbia essa memória

E a criança começa a entender o medo,

De bem cedo deixar de ser menino.

 

Carlos Cebolo

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 CHUVA NO SIÊNCIO DA NOITE

 

Choveu a noite toda!...

Será que sentiste?

Aquele lamento que chora

Caindo da beira do telhado,

Como lágrimas soltas de dor

Que escorrem da minha face

E secretamente os teus

Lábios querem beijar.

 

Passaram as horas tristes

E a ansiedade dos amores,

Foram sonhos perdidos

Na ilusão que existe,

Como a saudade desejada

De contigo estar.

 

Sentada na beira da cama,

Olhando a ampulheta do tempo,

Vejo a areia fina desaparecer.

Lá longe, no infinito,

Alguém me chama

E minha alma voa pelo espaço sem fim,

Indo ao teu encontro,

Levando com ela o meu sofrimento.

 

Sonho com a eternidade,

Conto os segundos da minha ilusão

E deixo voar a minha pureza,

Por entre os dedos da minha mão,

Procurando a felicidade.

 

O som da água a escorrer pelo telhado,

Confunde o eco do meu silêncio,

Juntando-se ao sal do meu olhar,

Vincando na minha alma a incerteza

De um dia te poder amar.

 

Será que sentiste o murmúrio da chuva?

O chamar incessante do teu abraço

Que tantas noites me tira a calma,

Fugindo dos meus sonhos

E que faz sofrer a minha alma,

No abismo profundo da desilusão.

 

Carlos Cebolo

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 GRITO POR LIBERDADE

 

Corre-se ao vento, colhendo a eternidade,

Utopia que arrasa o sentimento,

Entre grades se abraça a liberdade,

Alcançada com todo o sofrimento.

 

Solitário instante sem igualdade,

O pleno que se foi, sem ter chegado,

O cravo rubro sem ter liberdade,

Reclama o povo pelo seu desejado.

 

Transforma-se essa substância do Ser,

Livre vai fluindo o seu pensamento,

Frenético sonho do amanhecer,

Forja na liberdade o sentimento.

 

Vive-se a vida pensando a liberdade,

A andar, correr, ou voar, segue-se em frente

E sozinho enfrentando a realidade

Que entre a multidão, a vida consente.

 

Ganha-se o cansaço da eternidade,

No tempo ilude a dor e essa opressão,

Solta o grito mudo da liberdade

E só o trabalho árduo lhe dá o pão.

 

Carlos Cebolo

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OLHAR A BELEZA

 

A beleza será eterna,

Aos olhos de quem a sente.

Tão bela que é efêmera,

Encanto de primavera,

Antiga e sempre moderna

Que o próprio mundo consente.

 

Meu olhar que te ofereço,

Com toda a fragilidade

E encanto primaveril,

É flor fresca desse abril.

Teu sorriso não conheço,

Com toda essa liberdade.

 

Tua pele seda e nácar,

No mundo que renasceu,

Afaga o meu pensamento

E todo o meu sentimento,

Querendo contigo ficar,

Com a dor que não conheceu.

 

Carlos Cebolo

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 TERRA MINHA

 

Imagens passam-me pela retina,

Aquele soberbo porte do imbondeiro,

As fontes belas com água cristalina,

Terra árida de um tempo pioneiro.

 

Olho para longe, onde o dia termina,

Cai pela noite um fino nevoeiro,

Cacimbo que o próprio calor domina,

Naquela terra onde a noite é menina.

 

No céu voam pequenas estrelinhas,

Vaga-lumes no seu rodopiar

E o salalé perde as suas asinhas,

No cacimbo que veio para ficar.

 

Colhendo a proteção do imbondeiro,

Na esteira me deito sempre a sonhar,

Com o amor sentido que é verdadeiro,

Da moça que comigo quer ficar.

 

Carlos Cebolo

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AO SABOR DO VENTO

 

Ao vento ondulante fui navegando,

Por entre as ondas da minha emoção,

Plantei sonhos nessa imaginação

E o tempo de uma vida foi andando.

 

Por entre o azul das ondas entreabertas,

Fecho essas feridas por cicatrizar,

Abro memórias nesse navegar,

Colhendo areias frias e desertas.

 

O vento leste sopra lá bem longe,

Entre o arvoredo da nova esperança,

A alma náufraga perde a confiança,

No claustro da vida se torna monge.

 

Assim, choro sempre que for preciso,

As lágrimas alimentam meu mar,

E ponho esse navio a navegar,

Libertando as ondas do Paraíso.

 

Carlos Cebolo

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SONHOS E DESEJOS

 

São respostas que não se encontram assim,

Entre mim, navegam vários desejos,

Descem lágrimas disfarçadas em beijos,

Cobrindo todo o infinito sem fim.

 

Exponho o sonho, em ritmo de aventura,

Sem dar tão grande importância ao amor,

Colho ventos que se transformam em dor

E nessa viagem, procuro a ternura.

 

Ao longe, oiço o vento que me chama,

Cântico negro que me perturba a alma,

Como uma lâmina que me fere a calma,

Perturbando o sono na fria cama.

 

Carlos Cebolo

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ALMAS SEM TEMPO

 

Dançam meus dedos que percorrem teu corpo,

Respiram odores de uma natureza só tua,

Fixando o olhar numa melodia sem lágrimas,

Onde minhas mãos, sentem a tua frescura.

 

São toques de uma saudade que respira,

Nas noites sem rumo onde estou presente

E a imaginação do teu beijar ganha a eternidade.

 

Na minha mente, apago os tempos passados

E os meus sonhos mudos ficam por lá guardados.

 

No perfume da primavera, sinto o êxtase no ar,

Colho do teu corpo, uma ansiedade misteriosa

E sinto o tempo que por mim passou sem piedade,

Levando com ele a juventude que não quis ficar.

Toda a palavra se torna cristalina e amorosa

E ouve-se no íntimo, aquele grito de liberdade.

 

Carlos Cebolo

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ILUSÃO

 

Tantas vezes, usa o seu lápis de névoa,

Sem qualquer fim à vista desarmada,

Por onde a linda mariposa voa,

Naquele rodopio, desesperada.

 

Sem atingir o mundo impenetrável,

Onde não existe essa solidão,

Fica a mariposa triste e instável,

Aguardando por outra ocasião.

 

Para além dele, nada mais existe.

Entre as ondas, esconde a emoção.

Na névoa passeia o seu olhar triste,

Deixando no ar, toda essa ilusão.

 

Carlos Cebolo

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RETRATOS DE UMA VIDA

 

O tempo mudou o meu horizonte,

Ergo castelos da minha memória,

E vejo as cãs branquearem-me a fonte,

Pétalas brancas de toda uma história.

 

Colho estrelas dessa imaginação,

Surge a madrugada pelo nascente,

Por entre gestos de pura emoção,

Colho os frutos plantados da semente.

 

Seiva rubi que do meu corpo escorre,

Por entre essa porta que já se abriu,

Fere minha esperança que aos poucos morre.

 

Cai o outono por essa solidão,

Deixando a primavera que ruiu,

E retratos espalhados pelo chão.

 

Carlos Cebolo

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ÁGUAS DO ALTO MINHO

 

Vagueia entre ruas de solidão,

Contemplando o Lima até à foz,

Águas turvas dessa imensidão,

A revolta que chama por nós.

 

Com toda a impotência o povo chora,

Passou a água a ser mais valiosa,

Pede-se justiça que já demora

E as promessas não passam de prosa.

 

Segue a prostituta o seu fadário,

Segue o Lima a sua velocidade

E este povo segue o seu calvário,

Ser roubados até à eternidade.

 

Ser escravo de um poder absoluto,

Ficar o povo sempre quedo e mudo,

Submisso à vontade do senhor fajuto

Que se faz passar por homem sisudo.

 

Carlos Cebolo

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ORVALHO PRIMAVERIL

 

Sinto o calor do teu sorriso,

Entre o orvalho da primavera,

Colho sensações no improviso.

Fico sonhando à tua espera

E de tudo, fico indeciso.

 

Na ânsia eterna que me conduz,

Colho a imagem que me seduz.

 

Sei que te voltarei a ver,

Nesta nossa cumplicidade.

Na imaginação do meu Crer,

Sonho por essa liberdade,

Na ilusão deste meu sofrer.

 

Prende-me o cativo momento,

No silêncio da decisão,

A ausência de consentimento,

É indício de rejeição

Ou talvez outro sentimento.

 

Sem compromisso ou ilusão,

Sigo o caminho da procura

E espero pela ocasião.

 

Esse momento de loucura,

Despedaça meu coração.

 

Carlos Cebolo

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INSTANTES

Nossos lábios não se encontram

Na incerteza desse querer,

Nada fazem para merecer,

Os sonhos que outros puderam.

 

Instantes desse amor que morre,

Num poço criado sem fundo,

São mistérios de um outro mundo,

Por onde o tempo já não corre.

 

Esse passado ampara a vida,

Do nosso solitário instante,

Bem distante deste presente

Choroso, antes da partida.

 

Tudo foi flache a preto e branco,

Essas memórias destruídas,

Neste futuro coloridas,

Neste instante de um falhanço.

 

Carlos Cebolo

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 COLHENDO MEDOS

 

Teus sonhos que a própria vida rejeita,

No silêncio dessa cumplicidade,

São desejos retidos na saudade,

Lembrando a solidão que não se aceita.

 

E o tempo passou no corpo saudável,

Lábios secos que provocam tormenta,

Colhem seus medos e outros que se inventa,

Sentindo o próprio corpo descartável.

 

Na ilusão dos sentidos que humedece

O teu íntimo, provocando calor,

Vives a juventude de um novo amor,

Colhendo o fruto dessa tua prece.

 

Fica um nome retido na clausura

E todo o receio da hesitação,

Constrói os muros de uma indecisão,

Deixando no ar, toda essa loucura.

 

Carlos Cebolo

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NOITES AO LUAR

 

Aos poucos vai-me faltando a memória,

Os sonhos de criança fixos em mim,

Janelas abertas de uma outra Era.

Memórias escritas que fazem história,

O passado que não teve o seu fim

E esse presente que em nós desespera.

 

Gotas salgadas que as nuvens bebem,

Caem doces em chuva miudinha,

Destes meus olhos que forçam outro olhar.

Recorda-se o que em nós ficou alem,

Essa vida que aos poucos se adivinha,

Ter feito parte deste caminhar.

 

Por lá, havia mundo e outra aurora,

O sol forte torrava a pele morena

E a beleza surgia nesse luar.

Luar que à noite surgia sem demora,

Trazendo com ele, a aragem serena,

Onde o amor surgia com o seu cantar.

 

Carlos Cebolo

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HERANÇA DE UM NOME (PAI)

 

Aos poucos partem e não deixam rastos,

Inclina o tempo a haste já desgastada,

Renovando na vida os tempos gastos,

De uma descendência por cá deixada.

 

Como tantos outros também partiste

E o nome pai, continua presente,

Noutro pai por cá deixado bem triste,

Colhendo a vida da mesma semente.

 

Das memórias construo minhas obras,

Junto pedaços de imagens deixadas

E a solidão é preenchida com sobras

Das lembranças e memórias guardadas.

 

Construo intervalos nas sensações,

Horas vividas serão esquecidas,

Por entre astros e outras constelações,

Todas as conversas ficaram retidas.

 

Talvez a vida seja feita assim,

Na renovação se colhe essa herança

E o nome dado por ti terá fim,

Quando o tempo já não tiver lembrança.

 

 

Carlos Cebolo

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