O CAVALINHO DE CORRIDA
Numa quinta onde
viviam muitos animais, havia sempre muita alegria, pois todos os animais eram
amigos e procuravam sempre ajudarem-se uns aos outros.
Embora cada
animal tivesse a sua missão dentro da quinta, sempre que era necessário, faziam
o trabalho que pertencia a outro animal, quando este não pudesse fazer por
qualquer motivo.
Até o galo que acordava todo o mundo com o seu
cantar, antes do Sol nascer, era alegremente substituído pelo ganso que, com o
seu grasnar irritante e muito agudo, o substituía quando ele não podia cantar.
Com esta grande
amizade entre eles, viviam alegremente na quinta.
Um dia, o dono
da quinta começou logo de manhã a construir um estábulo novo.
Os dias foram
passando e todos os animais estavam curiosos para conhecerem o seu novo amigo.
Dizia o cavalo:
- Quem será que
vai ocupar aquelas instalações?
Respondia o
burro:
- Não sei amigo
cavalo, mas seja quem for, é um sortudo, pois o nosso dono está a colocar um
bebedouro novo e canos de água corrente e já lá meteu mantas!
- Logo se verá.
O certo é que vamos ter um novo amigo! Disse o cão de guarda.
E todos estavam
felizes com a ideia.
Um dia, o dono
da quinta chegou com uma carroça fechada e descarregou com muito cuidado um
lindo cavalinho muito elegante. Os outros animais ficaram contentes e disseram:
- É mesmo um
amigo! É outro cavalo! Ainda é novinho e fraquinho, mas é um dos nossos.
Assim que o dono
saiu, foram todos cumprimentar o novo amigo.
Junto ao novo
estábulo, o cavalo chamou:
- Eh! Amigo,
aparece para nos conheceres e para nós te vermos melhor?
O cavalinho de
corrida apareceu todo vaidoso e disse:
- Amigo? Quem
pensam que eu sou? Algum animal vulgar com vós? Eu sou um campeão? Sou um
cavalo de corrida muito valioso e o meu dono deu muito dinheiro para me
comprar? Por isso, deixem-me em paz que eu quero descansar.
O burro não
gostou nada da conversa do vaidoso cavalinho e disse com desprezo:
- Oh! Olhem para
ele? Julga-se superior aos outros, mas já tem as patas todas atadas com
ligaduras. Vê-se mesmo que é fraquinho das pernas.
O cavalinho cada
vez mais arrogante disse:
- Que
ignorância! Não sabes que os cavalos de corrida têm as patas enfaixadas com
ligaduras para proteger os seus tendões? Vê-se mesmo que não percebem nada de
nada!
E dito isso, com
arrogância, foi para o fundo do estábulo.
Os outros
animais foram embora, cada um para o seu trabalho com grande tristeza.
À noite, quando
se juntaram todos como sempre faziam, o cavalo disse:
- E nós que
pensávamos que tínhamos um novo amigo! Que grande besta nos saiu na rifa!
O burro disse:
- Deixa lá! Um
dia ele ainda vai precisar de nós e aí vai ver o quanto é ruim não ter amigos.
Passaram-se anos
e tudo continuava na mesma.
Num domingo de
Outono, o dono levou o cavalinho na carroça fechada, como fazia várias vezes.
Passado algumas
horas, regressou muito aflito, acompanhado por uns senhores com batas brancas.
Entraram para o estábulo e fecharam a porta.
Interrompendo o
silêncio, o galo chamou os amigos:
- Amigos! Algo
de grave se passou, vou subiu para o telhado do estábulo para ver o que se
passa! E assim fez.
Pouco depois, o
galo voltou e disse:
- Amigos! O
arrogante partiu uma pata e os senhores vestidos de branco são veterinários.
Ouvi um deles dizer ao nosso dono que o cavalinho estava perdido para as
corridas e que o melhor era abate-lo.
Junto ao
estábulo novo, apenas se ouvia gemidos.
O burro com
curiosidade, aproximou-se e sem querer, fez um pouco de barulho.
O Cavalinho
ainda com arrogância, aproveitou logo para pedir:
- Dá-me um pouco
de água que eu tenho cede.
O burro fingiu
que não ouviu e foi-se embora.
Passado mais
alguns dias, o cavalinho não recuperava da perna partida e ouviu o dono dizer:
- Bem! Estou a
ver que não tenho outro remédio. Tenho de o mandar abater!...
- Amanhã vou
tratar disso.
E saiu do
estábulo deixando a porta aberta.
Durante a noite
toda, o cavalinho chamou pelos outros animais. Chamava-os de amigos e pedia
desculpas por ser tão vaidoso e arrogante ao mesmo tempo que dizia:
- Estou
arrependido! Por favor perdoem-me! Não quero morrer sem o vosso perdão!
Os outros
animais ouviram e todos juntos resolveram ajudar o pobre coitado.
No dia seguinte,
o dono da quinta saiu cedo e voltou pouco de pois com um carro, para levar o
cavalinho para o matadouro.
Quando chegou
junto do estábulo, viu todos os amimais deitados à volta do cavalinho de
corrida e o cão a ladrar muito e a querer morder os senhores que se
aproximavam.
O dono comovido
com aquela cena, resolveu não mandar matar o cavalinho.
Depois desse
dia, o cavalinho de corrida procurava sempre ajudar os seus amigos e quando
alguém lhe perguntava o que era a melhor coisa do mundo, ele respondia:
- A melhor coisa
do mundo é ter verdadeiros amigos!...
E assim, viveram
todos felizes para sempre.
Carlos Cebolo
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