O OVINHO MÁGICO
No país do faz
de conta, havia uma aldeia que ficava nos arredores de um lindo bosque.
À noite, como
ainda não tinha sido inventada a televisão, era costume os mais velhos,
reunirem toda a família à volta da lareira e contarem histórias que já tinham
ouvido dos seus pais e dos seus avós.
A maior parte
das histórias falavam sempre do Bosque que rodeava a aldeia.
Diziam que era
amaldiçoado e por isso ninguém lá queria entrar.
Uma das
histórias dizia que um dia, há muitos anos, uma menina entrou no bosque e nunca
mais voltou.
Diz a lenda que
uma bruxa agarrou-a e ficou com ela. Ainda hoje, de vez em quando, se ouvem os
gritos e gemidos da menina, mas ninguém tem coragem para lá ir.
Os habitantes da
aldeia eram muito pobres. Viviam apenas da agricultura e dos pequenos animas
que criavam.
Um dia, foi
viver para a aldeia um humilde lenhador com a sua família.
O lenhador tinha dois filhos pequenos, um
rapaz chamado Piu e uma menina chamada Vil.
Como eram de
fora, não conheciam as lendas do bosque, os vizinhos apenas tinham dito que o
bosque era amaldiçoado.
O lenhador
arranjava a lenha que vendia na cidade, junto ao bosque mas tinha medo de
entrar nele e por isso a lenha era sempre pouca e o dinheiro que conseguia com
a sua venda mal dava para sustentar a família.
Piu e Vil
ajudavam o seu pai a levar a lenha para casa, sempre muito contentes e enquanto
o pai apanhava a lenha, eles brincavam apanhando pequenas pedras de várias
cores que encontravam pelo caminho.
Uma das pedras que apanharam, era muito bonita
e redondinha. Era azul claro e tinha pintas brancas. Contentes, foram a correr
e mostraram a pedra ao pai.
O lenhador viu a pedra e disse:
- Filhos! Isto
não é uma pedra, é um ovinho de passarinho que caiu de algum ninho ou foi
abandonado pelos pais.
Ambos os
meninos, queriam ficar com o ovo e começaram a discutir um com o outro.
Dizia Piu:
- fui eu quem o encontrou e por isso ele é
meu!
Dizia a Vil:
- Mentira! Tu
apenas o apanhaste! Mas quem o viu fui eu! Por isso ele é meu!
O pai chamou os
filhos e disse:
-Não é preciso
zangarem-se um com o outro. Os irmãos não devem lutar um com o outro. Devem ser
sempre amigos. E além disso! Se lutarem podem partir o ovo e matar o passarinho
que pode estar lá dentro! Porque não cuidam dele os dois? O ovo necessita de
calor e muito amor.
Piu que era o mais velho disse:
- Olha Vil! Pega
nele e leva-o para casa que eu vou procurar uma coisa para servir de ninho.
A menina levou o ovo para casa e o menino foi
à procura de um ninho.
Distraído Piu entrou no bosque e desapareceu
entre as árvores.
O pai pensou que os meninos tinham ido para
casa.
No fim do trabalho, o lenhador apanhou a lenha
e também foi para casa.
Quando lá chegou não viu o Piu e perguntou
onde ele estava.
Como Piu não aparecia, procuraram nas casas
dos vizinhos e todos disseram:
-Se o menino entrou no bosque está perdido
para sempre, assim diz a lenda. O bosque é amaldiçoado e quem nele entrar não
volta mais.
O lenhador quis ir à procura do filho no
bosque, mas os vizinhos não deixaram.
Triste foi para casa e contou à esposa e à
filha o que tinha ouvido dos vizinhos e todos começaram a chorar por terem
perdido o Piu.
A mãe de Vil
para a compensar, fez-lhe um ninho com panos e meteu lá dentro o ovo de
passarinho.
Vil todos os
dias dormia com o ovo junto à sua almofada e cuidava dele com muito amor,
pensando sempre no irmão.
Um dia de manhã,
o ovo partiu-se e lá de dentro saiu um lindo passarinho que começou logo a voar
à volta da cabeça de Vil.
A menina contente disse em voz alta:
- Que bom seria
se Piu aqui tivesse. Ele iria gostar muito de ti meu querido passarinho.
Nisto o passarinho voou pela casa e
encontrando uma janela aberta voou em direção ao bosque, entrando nele.
Vil correu para o apanhar, mas os pais que
tinham ido atrás dela, não a deixaram entrar no bosque com medo de também a
perderem.
Foram todos para
casa muito tristes e Vil chorava em silêncio.
Vários dias se
passaram e numa tarde em que o lenhador estava com a filha Vil a apanhar lenha
junto ao Bosque, viram sair de lá o lindo passarinho que logo poisou no ombro
de Vil, a cantar muito alegre.
Pouco depois
apareceu Piu com um grande saco às costas.
O pai muito contente abraçou o filho e
perguntou o que se tinha passado.
Piu contou a sua
história:
- Entrei no
bosque sem querer, à procura de um ninho para o ovo de passarinho e quando quis
voltar, não encontrei o caminho.
No bosque depois de dar muitas voltas,
encontrei um pomar com árvores de fruto dos quais me alimentei até hoje.
Nesse pomar havia um lago e dentro desse lago
encontrei muitas pedras lindas que apanhei. Fiz com as folhas de palmeira um
saco e meti as pedras lá dentro.
Hoje, quando estava a apanhar fruta para
comer, apareceu este passarinho a esvoaçar à minha volta e a piar muito aflito.
Segui o passarinho para ver o que se passava e
depois de muitas voltas, dei com a saída do bosque.
Foi ele que me indicou o caminho.
O Pai e os dois filhos muito contentes, foram
para casa com o passarinho sempre a cantar no ombro de Vil.
As pedras que Piu apanhou no bosque eram
preciosas e depois de vendidas fizeram desta família uma família muito rica e
viveram felizes para sempre na companhia do passarinho.
O bosque
continuou a ser misterioso e os habitantes da aldeia ainda hoje não entram
nele.
Carlos Cebolo
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