Ouve-se o batuque lá na sanzala!
È o homem velho sentado que toca.
Recorda com saudades, a triste calma,
Sentindo a perda da mulher já morta.
Som triste, melodia solta, toca então…
Lembra o tempo antigo, com saudade.
Os mais novos escutam então,
A sabedoria de quem tem idade.
O mais velho, tem o cachimbo na mão…
Recorda o velho com o olhar triste!
A fartura de outros tempos, já não existe!...
Da fumaça do cachimbo, olha o fumo que sobe.
O som do batuque também consome,
O silencio triste da sanzala e tudo o que existe.
A panela de barro, com água a ferver está pronta,
A receber a fuba e fazer o pirão.
Peixe seco não há e carne também não!…
Palavras ditas pelo velho, ouvidas com atenção,
Pelos jovens que de cócoras, na roda fazem serão.
Mãe morta, não tem panos para se cobrir.
O corpo depositado na gruta, é coberto com folhas
Das árvores.
Velas que no outro tempo havia, não há!...
Ouve-se o batuque tocado na sanzala!...
Manda atear o fogo da fogueira e ouve com atenção
Os pios das aves.
O velho reacende o cachimbo já apagado.
É um mocho que solta ao longe, o seu piar arrepiante.
Sinal de passagem. Diz o velho agachado.
A alma da mãe já está na pastagem.
Os jovens choram em silêncio, o velho não tem lágrimas.
No centro das cubatas, o batuque solta os seus sons.
As mulheres choram e dançam ao ritmo das palmas.
Todos cantam, louvando a alma da defunta.
É uma dança com cantares de tristeza.
Ouve-se o som do kissange, tocado na penumbra
Da mata
Á luz da fogueira, junta-se o brilho da lua cheia.
A noite está quente e quente está a alma que passeia.
O espírito da morta, todos pressentem com respeito,
Ao redor da cubata.
Ao longe, o mocho deixa de cantar, o velho bebe um pouco
De Macau.
Pirão e leite azedo é servido como refeição, em honra da mulher
Em pratos de pau.
O quimbanda aparece e manda tocar o mpwita.
É sinal de respeito e ajuda a alma a seguir o seu caminho.
Todos cantam e dançam, acompanhando com palmas,
O batuque com carinho.
O homem velho chora , canta as suas mágoas e grita.
O tocador do kissange acelera o ritmo e o batuque está
Frenético
É a vez do quimbanda dizer palavras mágicas que ajudam
Na caminhada.
O homem velho lamenta não ter panos coloridos e vinho
E explica ao neto.
No tempo do branco, tudo havia!... Agora não há comida!...
A massambala é pouca e o Macau é fraco!... Ao certo…
Temos de recorrer à ocisangua de gongo. Também é pura.
Mas o vinho do branco era melhor bebida!...
A lua desce no horizonte e o fogo da fogueira está fraco.
Os tocadores do batuque estão cansados. A noite foi dura!...
Um pouco pelo cansaço da cerimónia, mas também pela
Bebida.
O Sol nasce e nas cubatas todos dormem e sonham com
A subida.
Carlos Cebolo