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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

domingo, 4 de setembro de 2011

NOITE DE LUTO AFRICANA




Ouve-se o batuque lá na sanzala!
È o homem velho sentado que toca.
Recorda com saudades, a triste calma,
Sentindo a perda da mulher já morta.
Som triste, melodia solta, toca então…
Lembra o tempo antigo, com saudade.
Os mais novos escutam então,
A sabedoria de quem tem idade.
O mais velho, tem o cachimbo na mão…
Recorda o velho com o olhar triste!
A fartura de outros tempos, já não existe!...
Da fumaça do cachimbo, olha o fumo que sobe.
O som do batuque também consome,
O silencio triste da sanzala e tudo o que existe.
A panela de barro, com água a ferver está pronta,
A receber a fuba e fazer o pirão.
Peixe seco não há e carne também não!…
Palavras ditas pelo velho, ouvidas com atenção,
Pelos jovens que de cócoras, na roda fazem serão.
Mãe morta, não tem panos para se cobrir.
O corpo depositado na gruta, é coberto com folhas
                                                                Das árvores.
Velas que no outro tempo havia, não há!...
Ouve-se o batuque tocado na sanzala!...
Manda atear o fogo da fogueira e ouve com atenção
                                                        Os pios das aves.
O velho reacende o cachimbo já apagado.
É um mocho que solta ao longe, o seu piar arrepiante.
Sinal de passagem. Diz o velho agachado.
A alma da mãe já está na pastagem.
Os jovens choram em silêncio, o velho não tem lágrimas.
No centro das cubatas, o batuque solta os seus sons.
As mulheres choram e dançam ao ritmo das palmas.
Todos cantam, louvando a alma da defunta.
É uma dança com cantares de tristeza.
Ouve-se o som do kissange, tocado na penumbra
                                                                 Da mata
Á luz da fogueira, junta-se o brilho da lua cheia.
A noite está quente e quente está a alma que passeia.
O espírito da morta, todos pressentem com respeito,
                                                   Ao redor da cubata.
Ao longe, o mocho deixa de cantar, o velho bebe um pouco
                                                                                 De Macau.
Pirão e leite azedo é servido como refeição, em honra da mulher
                                                                       Em pratos de pau.
O quimbanda aparece e manda tocar o mpwita.
É sinal de respeito e ajuda a alma a seguir o seu caminho.
Todos cantam e dançam, acompanhando com palmas,
                                                      O batuque com carinho.
O homem velho chora , canta as suas mágoas e grita.
O tocador do kissange acelera o ritmo e o batuque está
                                                                           Frenético
É a vez do quimbanda dizer palavras mágicas que ajudam
                                                                      Na caminhada.
O homem velho lamenta não ter panos coloridos e vinho
                                                                 E explica ao neto.
No tempo do branco, tudo havia!... Agora não há comida!...
A massambala é pouca e o Macau é fraco!... Ao certo…
Temos de recorrer à ocisangua de gongo. Também é pura.
Mas o vinho do branco era melhor bebida!...
A lua desce no horizonte e o fogo da fogueira está fraco.
Os tocadores do batuque estão cansados. A noite foi dura!...
Um pouco pelo cansaço da cerimónia, mas também pela
                                                                              Bebida.
O Sol nasce e nas cubatas todos dormem e sonham com
                                                                           A subida.
Carlos Cebolo



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