Minha terra, minha mãe, dorme.
Um sono profundo, faz lembrar
A morte.
No alto da serra olho ao seu redor,
Vejo o que vejo, e o que vejo não gosto
Nada.
Rochas escarpadas, despidas de tudo,
Deixam ver o horizonte pela madrugada.
Minha terra, minha mãe, acorda
Do sono profundo.
Colinas sem fim espelham, o horizonte.
Um tom dourado proclama a sua sede.
A chuva demora e tarda em cair.
Só vejo o rio seco que atravessa o monte.
Aves de agoiro que percutam o céu,
Provocam sombras na triste paisagem.
Choro baixinho.
Minha terra, minha mãe olha p’ra mim.
Seus olhos pedem auxílio, mas não diz nada
Calada.
Como todas as mães, sofre pelos filhos.
Da alegria de outrora, não se sente nada.
Silêncio.
Mãe esquecida, fustigada por fortes ventos,
Procura abrigo na noite calada.
O Sol desponta lá por detrás dos montes.
Sua luz doce e quente, beija a terra
Ressequida.
Minha terra, minha mãe, chora.
Tristeza infinita espalhada no rosto
Deixam rolar lágrimas amargas de desgosto.
Ao longe vislumbro um raiar de esperanças.
Raios de Sol, projectam a intensa luz
Da mudança.
A política dos homens promoveu a matança.
Minha terra, minha mãe, sofre.
Dos filhos idos não tem lembranças.
Ao Sol e á Lua, procura por notícias
Ambos dizem que os filhos estão bem,
Estão longe.
Espalhados pelos quatro cantos da terra
Minha terra, minha mãe, sorri.
Os filhos vivos, depressa voltarão.
Não vão esquecer sua mãe cansada.
Esperançada.
Percuta o horizonte, procura um sinal.
Sua vista é fraca e não enxerga nada.
A escuridão na sua vida é total.
Descansa.
Minha terra, minha mãe, adormece.
Sonha com um futuro brilhante.
A chuva não tarda a chegar. Sonha.
No seu sonho, os filhos regressam
Em massa.
Sua alma vive novamente dias felizes.
O sonho acaba; acorda; não vê nada.
A escuridão tomou conta do seu olhar.
Minha terra, minha mãe, cega.
Acaba.
Carlos Cebolo
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