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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


            ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA

                                                  XVIII Parte
Eram perguntas que Carlos fazia constantemente a si e ao resto da família.
Andou por Albufeira a tentar arranjar emprego. Chegou mesmo a ir até Faro e Portimão, mas nada.
Carlos sabia que o dinheiro, dez contos que ele e sua esposa tinham trocado, não iriam durar sempre. Além disso, numa consulta médica tiveram a confirmação que sua esposa estava grávida.
Em Angola, nos últimos tempos, não havia contraceptivos e num casal jovem, casado a pouco tempo, era normal isto acontecer, por mais cuidado que se tivesse.
Esta situação mais preocupou Carlos e a família.
Em conversa com o gerente do hotel, Carlos foi informado que no Norte do país era mais fácil arranjar emprego. O norte tinha muita indústria e o Algarve vivia apenas do turismo.
O cunhado de Carlos, irmão da mulher, tinha a mesma idade de Carlos e também, como Carlos, tinha casado em Angola, mais ao mesmo no mesmo tempo, teve conhecimento que a família de sua esposa estava em Viana do Castelo, no Norte do país.
O cunhado de Carlos foi assim incumbido de ir ao Norte, ver a família da esposa e sondar possibilidades de emprego.
De Viana do Castelo telefonou a dizer que na realidade no Norte havia mais possibilidades de emprego e que Viana não era assim tão frio como diziam.
Carlos e toda a família, resolveram assim pedir ao IARN a sua transferência para Viana do Castelo.
Foi assim que Carlos trocou um hotel de cinco estrelas, junto ao Mar, no Algarve, por uma pensão sem estrelas, numa rua escura em Viana do Castelo.
Carlos tinha metido o seu processo como professor primário, no quadro geral de adidos e estava à espera de resposta. Enquanto esperava, procurou trabalhar em algo que aparecesse.
 Fazia de tudo um pouco, para arranjar dinheiro honesto. Trabalhou como estivador no porto mar de Viana do Castelo, sempre que necessitavam de carregar algum navio e não havia trabalhadores suficientes, ou os trabalhadores normais, fizessem greve; Trabalhou como ajudante de funerária, sempre que o dono de uma funerária que também tinha vindo de Angola, necessitava de pessoal para ajudar nos funerais; trabalhou como empilhador de lenha para o forno numa padaria. Em fim trabalhava em tudo que aparecia, desde que fosse honesto.
Quando chegou uma carta do quadro geral de adidos, Carlos ficou esperançado, mas. ao abrir a carta a desilusão foi total.
O seu processo não tinha sido aceite, uma vez que tinha sido nomeado como professor primário por um governo provisório em Angola e esse organismo não tinha qualquer valor em Portugal, embora a sua nomeação tivesse saído num boletim oficial da República Portuguesa. E mesmo que tivesse qualquer valor, teria de ter pelo menos três anos de ensino, o que não era o caso.
Com essa informação, Carlos ficou ainda mais preocupado e procurava a todo o custo, arranjar algum trabalho que fosse fixo.
Para agravar a situação, sua esposa tinha dado à luz, em 08 de Novembro de 1976, um menino. O parto tinha corrido bem, mas a criança tinha nascido com um problema num pé. Tinhas o pé boto.
Durante uma noite, ao ouvir as notícias no televisor da pensão, viu o pedido para alistamento nas forças de segurança.


                                         IXX Parte
Carlos estava farto de fardas, pois há pouco tempo atrás tinha sido militar no norte de Angola, mas viu ali, uma oportunidade de emprego estável que lhe permitisse fazer os tratamentos necessários ao seu filho.
No dia seguinte foi à esquadra da cidade pedir os papéis. Teve sorte. Como graduado de serviço, estava um subchefe que tinha vindo de Angola e que encorajou Carlos a seguir em frente.
Carlos meteu os papéis e aguardou.
Poucos dias depois, recebeu uma carta para se apresentar na Polícia para fazer provas.
Carlos fez as provas e dias de pois, recebeu outra carta para se apresentar em Torres Novas para fazer a recruta.
Carlos lá foi para Torres Novas. Se por um lado ia contente por ver a possibilidade de voltar a ter um emprego estável, por outro ia triste e preocupado por deixar a sua esposa com o filho apenas de dois meses de idade.
Em Janeiro de 1977 entrou finalmente para a Escola prática de Polícia em Torres Nova e depois da recruta foi colocado em Lisboa na Esquadra da Mouraria.
Sem conhecer Lisboa. Carlos preocupou-se em arranjar um roteiro das ruas da cidade e um mapa. Durante as horas de folga, percorria Lisboa a pé para conhecer melhor a sua zona de acção.
Em Lisboa, Carlos além do serviço normal de patrulha que durava seis horas, fazia também os chamados gratificados. Gratificados eram serviços particulares, feito para particulares, mas nomeados pela esquadra. Nomeadamente a casas de espectáculos, futebol, hospitais, etc.
O dinheiro que Carlos ganhava no seu serviço normal de polícia, era remetido para a sua esposa e Carlos vivia em Lisboa com o dinheiro que recebia dos gratificados.
Foram tempos difíceis, mas o mais importante era o seu filho ficar bom da perna, o que veio a acontecer graças aos tratamentos feitos no hospital Maria Pia no Porto. Hoje o filho de Carlos está completamente normal e até foi tropa.
Carlos não sabia nada sobre a sua família que tinha ficado em Angola, pais e irmãos. Mas como sabia o local onde eles estavam a residir na altura em que Carlos abandonou Angola, Carlos escreveu uma carta na esperança de receber notícias.
Um mês depois, recebe uma carta de sua mãe a dizer que o seu irmão mais velho e o seu pai tinham sido presos pelo MPLA. O irmão por ter sido tropa portuguesa e o pai pelo facto de não dizer que não sabia onde Carlos estava.
Os familiares de Carlos ainda estiveram presos três anos, no forte de S. Nicolau na província do Namibe e o irmão chegou mesmo a estar enterrado na areia da praia apenas com a cabeça de fora para ver se confessava ser da Unita. Mas como não havia qualquer acusação e depois dos negros naturais de Vila Arriaga dizerem que eram boas pessoas é que foram soltos, Mas mesmo assim, de vez em quando eram abordados com pedidos de víveres.
Como não eram autorizados a viajar para Portugal, depois de alguns anos, a família de Carlos consegue ir para o Brasil. Primeiro o seu irmão e um ano depois os seus pais e do Brasil vieram para Portugal.
Já em Portugal, a mãe de Carlos contou todo o martírio que eles passaram. O pai de Carlos com o Land Rover que tinha, fazia muito comércio com os indígenas. Ia para fora da cidade e trazia sempre leitões, cabritos e galinhas para vender na cidade e assim ia vivendo.
Para ser deixado em paz, a mãe de Carlos todas as semanas assava um leitão que era levado como prenda ao comandante do MPLA no Lubango, além de dar de comer a dois graduados cubanos.
 Foi assim que conseguiu a autorização para viajar para o Brasil.

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