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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sábado, 2 de fevereiro de 2013


             
  ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA
                                                     XVI Parte
A cadelinha depois de ver a cobra morta sossegou, mas não deixou de gemer. Carlos pegou-a ao colo e procurou alguma ferida que ela pudesse ter.
Felizmente estava tudo bem com a cadela, que arriscou a sua própria vida para salvar os seus donos. Se a cobra entrasse na casa, certamente haveria alguém que seria mordido e, sem qualquer medicamento disponível, seria uma morte certa.
Dias depois, o exército sul-africano recebe ordens para sair de Angola. Foi novamente formada a coluna com os milhares de Angolanos estacionados em Pereira D’Eça e que de livre vontade quiseram abandonar Angola e, com a protecção dos sul-africanos, rumaram com destino desconhecido principalmente pelo pessoal angolano.
Nessa altura, Carlos mentaliza-se que iria abandonar a sua terra e começar uma aventura da qual não sabia o fim. Apenas sossegou a esposa dizendo:
- Tenho dois braços para trabalhar, uma cabeça para pensar e juventude no corpo. Fome, não havemos de passar. Vamos tentar ficar na Namíbia ou na África do Sul. Ficamos relativamente perto e talvez um dia se possa voltar para a nossa terra.
A caravana chamada de, os refugiados de Angola, Segui o seu caminho por terras da Namíbia, sempre com protecção da tropa sul-africana, nomeadamente o seu batalhão “Búfalo” que era composto por tropas da África do sul e mercenários, alguns oriundos de Angola e por tal motivo, falavam português.
Carlos foi apresentado por uma prima de sua esposa, a um desses militares de nacionalidade angolana. Esse militar era quem transmitia as ordens do comando sul-africano aos refugiados angolanos
.Ao cair a noite, a coluna fez uma pousa algures na Namíbia, onde foi montado um acampamento improvisado, junto aos carros e onde foi passada a noite. Logo pela manhã, foi retomada a marcha até Grootfontein.
Em Grootfotein deixaram os carros e toda a carga que traziam, num grande descampado. Aqui, o comando sul-africano informou que iríamos fazer uma viagem de comboio até Windhoek e depois seriamos enviados de avião para Portugal.
Quanto aos carros e toda a sua carga, seriam despachados por eles, também para Portugal, com destino a Lisboa.
Carlos falou com o militar amigo para ver qual a possibilidade de ficar na Namíbia.
O militar de nome Jhon disse a Carlos que isso não era possível, pois Carlos, embora fosse branco, tinha a pele morena e não era aceite pelos sul-africanos, cuja política praticava o apartheid e eram muito rigorosos.
Depois de uma longa viagem de comboio, onde Carlos sentiu a violência dos funcionários Namibianos, composta por homens da raça himba, conhecidos em Angola como Mucancalas, que tinham medo de poder haver qualquer fuga em por isso, não deixavam ninguém sair dos camarotes da composição férrea.
A cadelinha laica acompanhou sempre os seus donos. O pouco que eles tinham para comer, era também repartido pela cadelinha que viajou sempre dentro de uma sacola que a esposa de Carlos levava ao ombro.
Em Windhoek, foram todos dirigidos para um grande acampamento improvisado com barracas do exército sul-africano e foi distribuído ração de combate como alimento.
A água também era fornecida por autotanques do referido exército.
Dias depois, todos receberam ordens para se prepararem para a viagem de avião com destino a Lisboa. Apenas se podia levar o que coubesse numa saca de mão e tínhamos de abandonar os animais de estimação.
Carlos aflito com o que poderia acontecer à sua querida cadelinha, procurou o militar amigo e perguntou qual a possibilidade de a levar.
                                                   
                                                            XVII Parte
O militar foi falar com o seu comandante e pouco depois voltou e disse não haver grandes hipóteses, os controladores junto à porta de embarque estavam a revistar tudo e a recolher todos os animais.
O militar mostrou interesse em ficar com a cadelinha, pois gostou muito dela.
Carlos pois de falar com a família, resolveu entregar a laica ao militar que a levou, deixando Carlos e sua esposa com lágrimas nos olhos.
A família de Carlos aguardava na tenda a sua vez para o embarque.
Duas horas depois do militar ter levado a cadelinha, Laica apareceu na tenda. Vinha muito aflita e com uma corda ao pescoço.
Carlos fez-lhe uma festa e procurou sossega-la.
O sentido de orientação ou o olfacto, tinham levado a cadelinha até aos sons donos, encontrando a sua tenda no meio de milhares.
 Nisto, aparece o militar muito aflito. Vinha à procura da cadelinha que tinha roído a corda e fugido.
Carlos ainda tentou não entregar novamente a cadelinha e tentar arranjar uma maneira de a levar consigo.
Um vizinho refugiado que também tinha perdido o seu cão, aproximou-se e disse a Carlos:
 É melhor entregar a este senhor a cadelinha, pois ele vai cuidar dela. O meu não teve tanta sorte. Como ninguém o quis, vai ser abatido.
Ouvindo isto, Carlos entregou novamente a cadelinha e deixou a recomendação de que tivesse muito cuidado com ela, pois ela não podia engravidar e que não a tratasse como um qualquer cão, pois ela estava habituada a ter sempre muito carinho e amor.
O militar lá levou a cadelinha ao colo, fazendo-lhe festinhas na cabeça e desapareceram.
Carlos nunca mais viu a sua querida cadelinha.
Quando chegou a vez de Carlos e sua família embarcarem, Carlos viu junto à porta de embarque vários animais metidos numa jaula Com os olhos procurou entre eles a laica, mas não a encontrou ali. Nesse momento, convenceu-se que tinha tomado a melhor decisão, ao ter entregue a sua cadelinha ao militar amigo.
O avião depois de cheio, levantou voo, fez escala na Costa do Marfim e terminou a sua viagem em Lisboa, no aeroporto figo maduro.
A viagem de Carlos e os dias difíceis, não tinham acabado.
No aeroporto figo Maduro, em Lisboa, havia uma comissão com o nome IARN que era um Instituto de apoio ao retorno de nacionais, que ali se encontrava para receber os refugiados e dar o primeiro apoio.
 Depois de trocarem apenas cinco contos por pessoa, foi dado a escolher a Carlos um destino pré definido. Havia vagas nos hotéis em Lisboa e em Albufeira no Algarve.
A família de Carlos não conhecia nada de Portugal, mas sabia que o Algarve era mais quente que Lisboa e, como traziam pouca roupa de inverno, resolveram ir para Albufeira.
Depois de uma manhã inteira, sentados no chão, ao Sol, junto a uma parede do aeroporto, à espera do autocarro que os levaria para o Algarve, finalmente embarcaram.
Chegaram ao Algarve, nomeadamente a Albufeira, já de noite e foram para o hotel Rocamar.
Rocamar era um belo hotel. de cinco estrelas, junto ao mar e isso animou mais a família de Carlos. Pelo menos em Portugal não havia guerra e tinham algum apoio.
A vida no Algarve não estava a correr mal, pois tinham dormida e comida, mas e o resto? Quanto tempo aquela situação iria durar?

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