PARAR NO
TEMPO
(aos doentes
com Alzheimer)
Fixa no tempo um brilhante olhar parado,
Com gestos vagos no seu esquecimento,
Recordações da vida que lhe foge da mente.
Guarda do seu modo, a alegria de um agrado,
No sentir do simples contacto e cumprimento,
A boa recordação do passado agora ausente.
Com o seu sofrer no presente sem recordação,
Passa os dias a proferir frases em repetição.
Corpo envelhecido na beleza da juventude,
Traz no rosto as lágrimas da eterna saudade,
Nas recordações em flashes da sua mente.
A doença que lhe corrói, muda-lhe a atitude,
Outrora enérgica e com responsabilidade,
Tornou-se agora na figura triste e ausente.
Nesta vida imperfeita da sua comunicação,
Não se lembra, mas traz o passado no coração.
No esquecimento da dor maior que o Mundo,
Ama os seus na lembrança do recente passado,
Na presença do físico corpo com alma ausente.
Procura recordações no recanto mais profundo
Da sua mente, na memória do cérebro parado,
Que não forma sentido no seu actual presente.
Criou filhos e netos sempre com a preocupação,
De quem a família sempre amou com o coração.
Vive no seu próprio Mundo criado e fechado,
No desconforto que o corpo e alma se habituou,
Sem sentido na imaginação que sente ausente.
Nos momentos de lucidez, o sentimento guardado,
No refúgio da alegria que o pensamento guardou,
Do longínquo passado com o seu ausente presente.
Esta maldita doença que já muitas vidas ceifou,
Tomou conta do seu corpo e a felicidade acabou.
Agora doente, não esquece quem já esqueceu.
Neste viver triste do amor ausente na presença,
Recorda apenas o que vê e sente no presente.
Triste realidade na doença que agora o venceu,
Traçando na sua doce velhice a vil sentença,
De viver o presente como a sua vida consente.
Na lembrança do amor e da família que criou,
Sente agora falta daqueles que sempre amou.
Carlos Cebolo
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