ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA
IV Parte
A grande
maioria dos pais, metiam os filhos na mocidade portuguesa, não por ideias
políticas, mas sim por medo de serem perseguidos pela PIDE. Pois quem não tinha
os filhos na mocidade era considerado contra o governo de Salazar e como tal,
eram indesejáveis à sociedade.
Era o primeiro
passo para serem perseguidos.
Na escola de
Carlos, tudo corria bem. Depois das aulas Carlos como membro da mocidade
portuguesa, ia com os seus camaradas para a sede da organização, onde havia
entre outras coisas, aulas de ginástica. Uma manhã, sem qualquer aviso,
apareceram uns senhores de fato e gravata na escola e levaram o professor
Cecílio Moreira, seu encarregado de educação e chefe da Mocidade, com eles.
A notícia
espalhou-se como uma bomba. O professor Cecílio, muito respeitado por todos,
tinha sido preso pela PIDE.
Quando Carlos
necessitava que o seu encarregado de educação assinasse algum teste escrito que
tinha recebido, Carlos ia à cadeia para falar com o professor Cecílio.
O professor
Cecílio Moreira, sempre muito amável, explicou a Carlos, que não era
conveniente continuar a ser o seu encarregado de educação, uma vez que poderia
trazer complicações tanto para o pai de Carlos, como para o próprio Carlos.
Durante as
férias, apareceram em
Vila Arriaga , uns senhores que se reuniram com o
administrador e fizeram perguntas a várias pessoas do Vila e também ao Carlos e
ao seu pai.
Depois desse
dia, o pai de Carlos foi a Moçâmedes, falou com outro seu amigo, de nome
Dantas, que também trabalhava na Escola, mas na secretaria, para passar a ser o
encarregado de educação de Carlos.
Carlos nunca
mais ouviu falar do bom professor Cecílio. Nem ninguém sabia do seu paradeiro.
Os anos foram
passando, a vida corria com normalidade. Ouvia-se de vez em quando notícias da
luta armada contra os turras e que estes estavam completamente derrotados em Angola. Só no norte de
Moçambique e na Guine é que ainda havia alguma luta.
Carlos fez o
ciclo preparatório em Moçâmedes e como o seu avô estava doente, seu pai pediu a
sua transferência para Sá-da-Bandeira, cidade que ficava apenas a cinquenta quilómetros
da Vila onde viviam os pais de Carlos.
Durante os seus
estudos na EICAP, Carlos não ouvi falar em guerra ou em guerrilha.
Tudo parecia
estar normal.
Ninguém tinha medo dos turras ou da guerra.
Mas todos tinham medo da PIDE. E talvez por causa disso, é que ninguém se
importava com a política. Apenas sabiam que a luta no norte de Angola era cada
vez mais fraca e só esporadicamente, se ouvia dizer que no Leste ainda havia
luta contra os turras, mas que os militares estavam a ganhar terreno. Os
terroristas estavam cada vez mais fracos e muito em breve seriam
definitivamente derrotados.
Como no
Sul de Angola e, principalmente em toda a sua zona costeira até Luanda, se
circulava sem qualquer problema e com grande liberdade de movimentos, Carlos
nunca mais se preocupou com tal assunto. E como sabia que a PIDE prendia
qualquer pessoa, sem qualquer motivo, como tinha acontecido com o seu professor
em Moçâmedes, facto que nunca falou com ninguém, mas também nunca esqueceu,
tinha medo que a ele ou ao seu pai, viesse acontecer o mesmo.
Como qualquer
jovem da sua idade, Carlos também namorava e, entre promessas de amor eterno e
casamento, a vida só fazia sentido em Angola. Nunca foi sequer imaginado viver noutro
lado, até porque tanto Carlos, como a namorada, não conheciam qualquer outro
país.
Chegou altura
de Carlos ir para a tropa.
Continua
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