ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA
VI I Parte
Junto a esses
aldeamentos, a população tinha as suas lavras, nomeadamente de milho,
batata-doce (cará) e mandioca. E era chefiada por um soba nomeado pela própria
população, a quem as autoridades portuguesas pediam responsabilidades era
considerada população amiga.
Toda a lavra
encontrada fora das zonas destinadas a esses aldeamentos, era destruída, pois
entendia-se que eram lavras ilegais para alimentar os turras.
Carlos, por
ser a primeira vez que tinha directamente responsabilidades pela guarda e
transporte de tanto dinheiro, levava a saca a tiracolo, junto ao seu peito e
nunca abandonou a viatura.
Felizmente, a
viagem correu sem qualquer incidente, mas Carlos só sossegou quando entregou ao
1º sargento e ao capitão, o dinheiro que trazia.
Assim, passou
Carlos o tempo da sua vida militar no Norte de Angola, na zona de Quicua.
Todos os dias,
às vinte e uma horas, Carlos e os seus camaradas furriéis, que dormiam na mesma
tenda, ouviam num pequeno rádio que Carlos tinha, as notícias da rádio
Brazavil, que transmitia em Português.
Ouvir a rádio
Brazavil era proibido, mas naquele fim do Mundo não havia PIDE e todos estavam
sossegados.
Foi aí que Carlos soube que a final, os terroristas
não eram terroristas, mas sim movimentos de libertação do território Angolano,
que lutavam contra o jugo de Portugal.
Também ouvia
que afinal os ditos movimentos tinham uma organização política por de trás dos
militares e que um tal Holden Roberto era o comandante supremo da FNLA e que do
lado do MPLA havia uma cúpula política encabeçada por Mário Pinto de Andrade e
pelo Doutor Agostinho Neto, médico formado em Portugal.
As cúpulas
políticas destes dois movimentos não se davam bem e esse sentimento era passado
para os militares operacionais. Deste modo, sempre que se encontravam, havia
lutas entre eles. Por aqui se via que ambos queriam a qualquer custo, chamar o
protagonismo para si, ignorando o outro.
Durante a
permanência de Carlos como militar, na zona então considerada crítica, por se
encontrar muito perto da fronteira com o Zaire, a tropa portuguesa não deu, nem
ouviu qualquer tiro e não houve qualquer contacto com os chamados inimigos.
Apenas se via de vez em quando, umas minas anti-carro,
enterrado na picada. Sinal que os turras andavam por ali.
Mas nem esta forma de luta, utilizada pelos
homens da FNLA ou do MPLA, era eficaz, pois as minas eram colocadas durante a
noite, à pressa e de forma deficiente, em zonas de grande inclinação, nomeadamente
em morros e, com a chuva que naquela zona era constante, no outro dia de manhã,
os referidos artefactos militares ficavam a descoberto e eram facilmente
detectáveis.
Isto só vinha
reforçar o que a propaganda portuguesa dizia.
A rádio
portuguesa quando falava da luta armada, salientava sempre que os turras em
termos militares, estavam completamente inoperacionais no norte de Angola,
baseando a sua fraca acção em palestras políticas no estrangeiro, com o
propósito de poder haver, por parte dos países, nomeadamente africanos, mas
também europeus, uma possível pressão política sobre Portugal.
Dizia a
propaganda política portuguesa que tudo não passava de manobras para meterem as
mãos nas grandes riquezas que o solo e o subsolo Angolano tinha.
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