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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013




                                           
                                                      VI Parte
Durante a semana que Carlos esteve em Luanda, aproveitou para conhecer a cidade. E para isso nada melhor do que andar a pé.
Luanda era nessa altura, uma cidade bastante grande e com muito movimento. Carlos para não se perder, procurou circular pelas principais avenidas, ruas e praças, sempre com um ponto de referência. O bastante alto prédio do Banco comercial de Angola e a Fortaleza. Eram estes os dois pontos de referência de Carlos. Assim, conheceu um pouco de Luanda.
Uma semana depois, a companhia recebe ordens para avançar em coluna para o norte, com destino a Sanza Pombo e daí para Quicua, onde iria render uma companhia de militares açorianos, cujo objectivo era proteger a engenharia militar que andava naquela zona a abrir estradas pela mata a dentro, e ao mesmo tempo, fazer uma ocupação efectiva do território, obrigando os grupos armados terroristas a recuarem para além das fronteiras de Angola.
A companhia militar de Carlos, era móvel e por tal motivo, não tinha poiso certo, nem instalações fixas. Eram montadas tendas grandes, onde o pessoal dormia. Por isso, sempre que o capitão ordenava a montagem de um acampamento, era feita uma grande clareira na mata. Eram montados os holofotes alimentados por geradores, em todo o redor do acampamento e havia uma guarda permanente.
Como não havia campo de poiso para a avioneta que fazia os abastecimentos de víveres para a tropa, Uma vez de quinze em quinze dias, a avioneta passava e deixava cair do ar, em pleno voo, os sacos com os produtos alimentares e com o correio. Deste modo, quando os sacos batiam no chão, arrebentavam e o que vinha lá dentro espalhava-se pela pequena clareira aberta para o efeito.
 Os militares recolhiam os pedaços de alimento, nomeadamente à base de frango que depois de lavados com a pouca água que havia, pois a mesma era recolhida nos riachos próximos que tinham água corrente, era depois tudo cozinhado com massa ou arroz, para matar a fome a toda a companhia.
Não havia aqui distinção entre soldados, sargentos e oficiais. Todos comiam da mesma comida. Estilhaços de frango com massa ou com arroz.
Normalmente, o dinheiro para pagar aos militares da companhia, vinha juntamente com o dinheiro do destacamento de Quicua, pois era bastante perigoso ir apenas um destacamento pequeno, levantar quantias tão grandes ao Batalhão de Sanza Pombo. Dizia-se que já tinha havido no passado, ataques dos turras com intenção de roubarem o dinheiro.
No final do mês, o Capitão ordenou a Carlos que fosse com os seus homens e integrasse a coluna de Quicua, que ia a Sanza Pombo levantar o dinheiro e que trouxesse o dinheiro da companhia.
Carlos escolheu os seus melhores homens, por sinal todos negros e integrou a coluna militar. Em Sanza Pombo dormiu essa noite no batalhão e no dia seguinte regressou a Quicua na coluna militar.
No caminho, a coluna parou junto a um aldeamento e a população ofereceu aos militares garrafas de Marufo. Murufo é um vinho artesanal, feito da seiva da palmeira e em troca os militares deram ração de combate.
Esses aldeamentos. Eram um conjunto de habitações feitas em barro e cobertas com colmo e folhas de palmeira, onde o exército português acantonava a população civil negra, acabando com as sanzalas dispersas que antigamente havia por toda Angola.

                                                 VI I Parte
Junto a esses aldeamentos, a população tinha as suas lavras, nomeadamente de milho, batata-doce (cará) e mandioca. E era chefiada por um soba nomeado pela própria população, a quem as autoridades portuguesas pediam responsabilidades era considerada população amiga.
Toda a lavra encontrada fora das zonas destinadas a esses aldeamentos, era destruída, pois entendia-se que eram lavras ilegais para alimentar os turras.
Carlos, por ser a primeira vez que tinha directamente responsabilidades pela guarda e transporte de tanto dinheiro, levava a saca a tiracolo, junto ao seu peito e nunca abandonou a viatura.
Felizmente, a viagem correu sem qualquer incidente, mas Carlos só sossegou quando entregou ao 1º sargento e ao capitão, o dinheiro que trazia.
Assim, passou Carlos o tempo da sua vida militar no Norte de Angola, na zona de Quicua.
Todos os dias, às vinte e uma horas, Carlos e os seus camaradas furriéis, que dormiam na mesma tenda, ouviam num pequeno rádio que Carlos tinha, as notícias da rádio Brazavil, que transmitia em Português.
Ouvir a rádio Brazavil era proibido, mas naquele fim do Mundo não havia PIDE e todos estavam sossegados.
 Foi aí que Carlos soube que a final, os terroristas não eram terroristas, mas sim movimentos de libertação do território Angolano, que lutavam contra o jugo de Portugal.
Também ouvia que afinal os ditos movimentos tinham uma organização política por de trás dos militares e que um tal Holden Roberto era o comandante supremo da FNLA e que do lado do MPLA havia uma cúpula política encabeçada por Mário Pinto de Andrade e pelo Doutor Agostinho Neto, médico formado em Portugal.
As cúpulas políticas destes dois movimentos não se davam bem e esse sentimento era passado para os militares operacionais. Deste modo, sempre que se encontravam, havia lutas entre eles. Por aqui se via que ambos queriam a qualquer custo, chamar o protagonismo para si, ignorando o outro.
Durante a permanência de Carlos como militar, na zona então considerada crítica, por se encontrar muito perto da fronteira com o Zaire, a tropa portuguesa não deu, nem ouviu qualquer tiro e não houve qualquer contacto com os chamados inimigos.
 Apenas se via de vez em quando, umas minas anti-carro, enterrado na picada. Sinal que os turras andavam por ali.
 Mas nem esta forma de luta, utilizada pelos homens da FNLA ou do MPLA, era eficaz, pois as minas eram colocadas durante a noite, à pressa e de forma deficiente, em zonas de grande inclinação, nomeadamente em morros e, com a chuva que naquela zona era constante, no outro dia de manhã, os referidos artefactos militares ficavam a descoberto e eram facilmente detectáveis.
Isto só vinha reforçar o que a propaganda portuguesa dizia.
A rádio portuguesa quando falava da luta armada, salientava sempre que os turras em termos militares, estavam completamente inoperacionais no norte de Angola, baseando a sua fraca acção em palestras políticas no estrangeiro, com o propósito de poder haver, por parte dos países, nomeadamente africanos, mas também europeus, uma possível pressão política sobre Portugal.
Dizia a propaganda política portuguesa que tudo não passava de manobras para meterem as mãos nas grandes riquezas que o solo e o subsolo Angolano tinha.


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