ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA
V
PATE
Em Janeiro de
1972, foi para Nova Lisboa, para a Escola de Sargentos Milicianos, onde tirou o
curso.
Durante o
curso de Sargentos milicianos, Carlos ouviu falar que na realidade havia uma
luta armada entre o exército português, do qual fazia parte e os turras. E que
os turras não passavam de bandos armados pelo estrangeiro que queriam tirar
Angola aos portugueses para serem eles a explorar as suas riquezas.
Como Carlos
não percebia nada de política, assim como a grande maioria dos seus colegas,
mentalizou-se que a luta era necessária para libertar Angola das forças
estrangeiras que a invadiam.
Para Carlos,
Angola era e sempre seria, província portuguesa. Nunca conheceu outra bandeira
a não ser a das quinas e nunca cantou outro hino que não fosse a portuguesa
Aliás, símbolos pelos quais sempre teve muito orgulho.
Contudo, como
Carlos também pensava pela sua cabeça e não pela cabeça dos outros,
apercebeu-se que algo mais sério se passava. Os turras não podiam ser apenas
bandos armados sem qualquer organização. Se assim fosse, não resistiam tanto
tempo a um exército poderoso e bem armado como era o exército português.
Também já na
tropa, Carlos pelos poucos jornais que lia, apercebeu-se que a província era
muito rica em diamantes e petróleo e daí a cobiça dos países estrangeiros,
nomeadamente a União Soviética e os Estados Unidos da América. E que eram estes
países que armavam os turras.
Pela
informação que tinha, a América do Norte armava os turras da FNLA e a União
Soviética, que era comunista, armava o MPLA.
Depois da
recruta e da especialidade de atirador, Carlos foi para Sá-da-Bandeira, para o
Regimento de Infantaria nº 22, onde deu três recrutas antes de rumar com
destino ao Norte de Angola, nomeadamente para a zona de Sanza Pombo, junto à
fronteira com o Zaire.
Durante o
tempo que esteve em Sá-da-Bandeira, em conversa com outros furriéis e Alferes,
que pouco ou quase nada também sabiam sobre a luta armada, ouviu o nome de
MPLA; FNLA e UNITA, mas sempre designados por turras. Nunca se ouvia falar em
Movimentos de Libertação.
Sabia que a
Unita operava no leste de Angola e era o movimento que estava mais activo. E
dizia-se que o Savimbi tinha sido da UPA e depois deixou a UPA para formar a
UNITA com apoios portugueses.
O MPLA e a
FNLA ou UPA, operavam no Norte de Angola, mas estavam praticamente derrotados.
Quando o
capitão que ia comandar a companhia com o nº 1305/72, onde Carlos estava
inserido como furriel do 1º pelotão se reuniu com os restantes oficiais e
sargentos para comunicar para onde se dirigiam, é que ouviu da boca do capitão
que iam para uma zona cuja operacionalidade hostil era da responsabilidade
repartida entre o MPLA e a FNLA. Mas que para nós, pouco nos importava que
fosse um ou outro. O importante era defender o território português.
Assim, Carlos
e os seus companheiros, militares portugueses, todos com excepção dos oficiais,
nascidos em Angola, brancos, mulatos, e negros, todos companheiros da mesma
aventura, rumaram, como primeiro destino, o Grafanil em Luanda, onde seria
formada a companhia com todos os seus quadros militares e administrativos.
Continua
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