ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA
II Parte
Carlos olhou
para o Mapa e pouco depois disse: Está aqui. Vila Arriaga é este pequeno ponto
junto a esta serra.
A professora
então explicou:
- Pois bem
meninos. A nossa vila chama-se Vila Arriaga, mas o concelho chama-se Bibala. Há
mapas que trazem o nome dos concelhos, mas outros apenas trazem o nome das
cidades e vilas mais importantes. É este o caso. Mas o mais importante é vocês
fazerem como o Carlinhos. Ao procurarem o nome das cidades e vila no mapa,
estou a estudar a sua localização e isso é muito importante. Quando forem para
casa ou mesmo aqui durante o recreio, estudem o mapa e vão ver que encontram
muitos nomes de terras que pertencem a Angola, mas que não conhecem. É uma boa
forma de se estudar geografia.
Os colegas de
Carlos, entusiasmados com a ideia, faziam jogos.
Lurdes foi a
primeira a perguntar aos colegas:
Ora vejam lá,
onde está Benguela?
E todos se
puseram a ver no mapa para ver se encontravam Benguela.
O jogo
continuou, sempre com a procura de nomes novos.
Só o Carlos,
não entrou na brincadeira, estava mais preocupado em saber qual a distância
entre o norte e o Sul.
Queria saber
se o massacre que ouviu o seu pai falar com os amigos, ficava perto ou longe. E
o que na realidade se tinha passado.
No fim das
aulas, depois de todos terem saído, Carlos que se tinha deixado ficar para
último, virou-se para a professora e perguntou:
Senhora
professora. Por favor diga-me se o Norte é perto daqui.
A professora
sem suspeitar de nada, respondeu:
- Carlinhos, o
norte é muito grande e é muito longe daqui. Mas porque queres saber?
Carlos,
encheu-se de coragem e disse à sua professora.:
- Senhora
professora, ontem à noite, ouvi o meu pai conversar com o meu tio Fernando e
com o senhor Simões e diziam que no norte tinha havido uma revolta e que tinha
morrido muita gente.
A professora
que sabia o que se tinha passado, pois também ouvira as notícias dadas pela
rádio católica, apressou-se a sossegar o seu aluno, dizendo:
-Não te
preocupes. O norte é muito longe daqui e o que lá se passou, foi apenas uma
revolta dos trabalhadores contra os patrões. Mas não foi nada de grave. Não
houve mortes como dizes. Com certeza ouviste mal e confundiste morte com norte.
Vai para casa
e estuda. Não te preocupes que isto passa.
Carlos foi
para casa, mas não ia convencido. Tinha a certeza de ter ouvido o seu pai falar
em massacre e catanas e uma tal UPA.
Quando chegou
a casa, arrumou a pasta da escola e foi para o escritório do pai a estudar o
mapa e ver se descobria algo mais.
Sempre que o rádio do pai que se encontrava no
escritório sempre ligado, dava notícias, Carlos ficava com muita atenção para
ver se ouvia algo mais sobre o norte e o massacre.
Mas nada. O senhor do rádio não falava nada
sobre o tal massacre.
Durante o jantar, viu que o seu pai comia à
pressa, o que não era normal.
Depois do jantar, o seu pai vestiu um casaco e
saiu com a arma de caça que tinha. Uma caçadeira de dois canos e um cinto com
cartuchos.
Carlos perguntou
à mãe:
- Mãe onde é
que o pai vai com a arma?
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