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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

domingo, 20 de janeiro de 2013



                   
                    ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA     
                                                        IX Parte
 A partir desse dia e durante o tempo que Carlos estive em Calamboloca, a mulher foi sempre a lavadeira de Carlos, do outro furriel e do alferes do pelotão de Carlos que também ainda não tinham lavadeira.
Nesse período a secção de Carlos fez protecção ao comboio que ia para Malange, sem nunca ter sequer dado um tiro. Nunca houve qualquer contacto com o chamado inimigo, apesar do comboio ir sempre à pinha e Carlos ter conhecimento de, de vez em quando haver conflitos no mesmo.
Numa patrulha apeada que o pelotão de Carlos fez pela zona, apenas encontrou no meio da mata vestígios já antigos de pequenos acampamentos dos chamados turras, mas nada recente.
Na realidade, tudo indicava que em Dezembro de 1973, a guerra estava realmente ganha pelo exército português no norte de Angola.
Quando regressou à fazenda tentativa e se juntou á sua companhia, Carlos pensou que iria ficar por ali até ao fim do seu tempo militar. Mas não. Pouco depois a companhia recebe ordens para ir para o Sul. Destino Pereira D’Eça, junto à fronteira com a Namíbia.
Em Pereira D’Eça, Carlos estava praticamente em casa, pois a sua cidade Sá-da-Bandeira, ficava relativamente perto.
Nesta zona de Angola, não havia guerra, a companhia de Carlos foi ali colocada como prevenção contra a SWAPO.
SWAPO era o movimento de libertação da Namíbia que, segundo informações dadas pelos sul-africanos, apoiava a UNITA e esta apoiava a SWAPO. Assim Carlos fez várias vezes patrulhas junto à fronteira sem nunca ter qualquer contacto quer com um, quer com outro grupo de guerrilheiros.
É aqui, em Pedreira D’Éça que Carlos ouve a notícia de ter havido um golpe de Estado em Portugal, e que os militares conhecidos como o grupo dos capitães, chefiados no terreno por Salgueiro Maia, tinham tomado conta do poder e que Marcelo Caetano, primeiro ministro de Portugal que tinha sucedido a Salazar, tinha fugido para o Brasil.
Dias depois, os movimentos, que até aí, estavam completamente destroçados, reorganizaram-se e começaram a entrar em Angola, sem qualquer intervenção militar portuguesa e, começou a grande confusão.
Os movimentos eram três, A FNLA de Holden Roberto; O MPLA de Agostinho Neto e a UNITA de Jonas Savimbi. Todos queriam tomar conta dos quartéis portugueses e ficar com o armamento português.
Havia ordens do Alto-comissário de Portugal para Angola, o senhor Almirante Rosa Coutinho, para não se oferecer resistência aos movimentos e que Portugal estava a negociar a entrega pacífica das províncias aos respectivos movimentos.
Como em Angola havia três movimentos, estava-se a preparar tudo para haver eleições democráticas, controladas por Portugal.
Um dia, aparece no quartel em Pereira D’Eça, uma delegação da UNITA, chefiada por um tal Vaculucuta que foi falar com o capitão para fazerem uma mudança de poderes. Carlos não sabe o que se passou, mas sabe o que o seu capitão fez e muito bem.
O capitão da companhia de Carlos, não estava na disposição de entregar a sua companhia aos movimentos de libertação.
Assim, mandou reunir a companhia e em coluna militar segui para Sá-da-Bandeira, onde entregou a companhia com todo o material e pessoal aos seus superiores do RI nº 22.

                                              X Parte
No dia seguinte Carlos e todos os seus camaradas, passaram à disponibilidade, a guerra tinha acabado. Julgavam eles. Mal sabiam que a verdadeira guerra iria começar.
Como angolano, Carlos ficou alegre, foi para a sua Vila, onde tinha a noiva e concorreu a um lugar de professor primário que havia em aberto na escola onde fez a primária.
O processo de Carlos foi aceite pelo governo provisório de Luanda e assim que saiu a sua colocação no Diário da Republica, Carlos começou a dar aulas em Vila Arriaga.
Carlos, assim como a grande maioria dos Angolanos, pensavam que tudo iria ficar na mesma. Angola apenas deixava de ser governada por portugueses e passava a ser governada por angolanos. Carlos sentia-se português, pois nunca teve qualquer outra nacionalidade e tinha sido tropa portuguesa, mas também era angolano por nascença.
Pensava que brancos, mulatos e negros, eram todos angolanos e Angola dava para todos. Por isso, pensou continuar em Angola.
Durante o primeiro ano, tudo correu dentro da normalidade. Carlos, foi leccionar a turma da terceira classe. Eram no total 20 alunos. Carlos preparou os alunos para a prova escrita de passagem para a 4ª classe.
No final do ano, Carlos levou os alunos a exame e dezasseis passaram para a quarta classe. Quatro não atingiram os objectivos.
Foi um resultado bastante positivo, mas Carlos ficou triste pelos quatro alunos que teriam de repetir o ano.
Carlos nunca pensou em sair da sua terra e como tinha um emprego que pensava ser estável, pois Angola necessitava de quadros, casou e formou a sua própria família.
A vida de Carlos era de casa para a escola e da escola para casa, não se metia em política, embora tivesse um fraco pela UNITA. Talvez por ser o movimento que se encontrava mais perto da sua zona de residência, já que os do norte, pouco ou nada lhe diziam.
Mas mesmo esse fraquinho que sentia pela UNITA, Carlos nunca deixou transparecer, pois sabia que tinha alunos cujos pais eram adeptos dos três movimentos e também alguns, nomeadamente brancos, que como Carlos, se sentiam portugueses.
Um dia em que o programa escolar mandava fazer um desenho da bandeira Nacional, Carlos viu desenhos com todas as bandeiras: Portuguesa: Do MPLA; da FNLA e da UNITA. E a todos deu a nota bom, sem fazer qualquer comentário.
O que Carlos sentia pela UNITA, era apenas simpatia e nada mais. Os seus símbolos sempre foram os portugueses desde que nascera e agora estava à espera que formassem novos símbolos, que representasse a nova Angola. Seriam esses os seus novos valores patrióticos, como Angolano que era de nascença, embora fosse português de coração.
Muitos portugueses abandonaram Angola em 1975, mas Carlos e sua família ficaram na terra onde tinham nascido. Nunca tinham feito mal a ninguém e não conheciam o chamado Portugal continental.
 Na escola onde dava aulas à terceira classe, havia o tão falado selo de povoamento de Marcelo Caetano, brancos, mulatos e negros. Todos eram tratados por igual.
No segundo ano, Carlos deveria dar aulas à quarta classe, mas não chegou a dar.
As eleições não chegaram a ser feitas e o Alto-comissário de Portugal para Angola, O tristemente conhecido Almirante Rosa Coutinho, o Almirante vermelho, pertencente ao partido comunista Português, deu a independência ao MPLA, embora a UNITA tivesse maior população.
Continua

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