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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013



                 
                          ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA

                                                 X Parte
No dia seguinte Carlos e todos os seus camaradas, passaram à disponibilidade, a guerra tinha acabado. Julgavam eles. Mal sabiam que a verdadeira guerra iria começar.
Como angolano, Carlos ficou alegre, foi para a sua Vila, onde tinha a noiva e concorreu a um lugar de professor primário que havia em aberto na escola onde fez a primária.
O processo de Carlos foi aceite pelo governo provisório de Luanda e assim que saiu a sua colocação no Diário da Republica, Carlos começou a dar aulas em Vila Arriaga.
Carlos, assim como a grande maioria dos Angolanos, pensavam que tudo iria ficar na mesma. Angola apenas deixava de ser governada por portugueses e passava a ser governada por angolanos. Carlos sentia-se português, pois nunca teve qualquer outra nacionalidade e tinha sido tropa portuguesa, mas também era angolano por nascença.
Pensava que brancos, mulatos e negros, eram todos angolanos e Angola dava para todos. Por isso, pensou continuar em Angola.
Durante o primeiro ano, tudo correu dentro da normalidade. Carlos, foi leccionar a turma da terceira classe. Eram no total 20 alunos. Carlos preparou os alunos para a prova escrita de passagem para a 4ª classe.
No final do ano, Carlos levou os alunos a exame e dezasseis passaram para a quarta classe. Quatro não atingiram os objectivos.
Foi um resultado bastante positivo, mas Carlos ficou triste pelos quatro alunos que teriam de repetir o ano.
Carlos nunca pensou em sair da sua terra e como tinha um emprego que pensava ser estável, pois Angola necessitava de quadros, casou e formou a sua própria família.
A vida de Carlos era de casa para a escola e da escola para casa, não se metia em política, embora tivesse um fraco pela UNITA. Talvez por ser o movimento que se encontrava mais perto da sua zona de residência, já que os do norte, pouco ou nada lhe diziam.
Mas mesmo esse fraquinho que sentia pela UNITA, Carlos nunca deixou transparecer, pois sabia que tinha alunos cujos pais eram adeptos dos três movimentos e também alguns, nomeadamente brancos, que como Carlos, se sentiam portugueses.
Um dia em que o programa escolar mandava fazer um desenho da bandeira Nacional, Carlos viu desenhos com todas as bandeiras: Portuguesa: Do MPLA; da FNLA e da UNITA. E a todos deu a nota bom, sem fazer qualquer comentário.
O que Carlos sentia pela UNITA, era apenas simpatia e nada mais. Os seus símbolos sempre foram os portugueses desde que nascera e agora estava à espera que formassem novos símbolos, que representasse a nova Angola. Seriam esses os seus novos valores patrióticos, como Angolano que era de nascença, embora fosse português de coração.
Muitos portugueses abandonaram Angola em 1975, mas Carlos e sua família ficaram na terra onde tinham nascido. Nunca tinham feito mal a ninguém e não conheciam o chamado Portugal continental.
 Na escola onde dava aulas à terceira classe, havia o tão falado selo de povoamento de Marcelo Caetano, brancos, mulatos e negros. Todos eram tratados por igual.
No segundo ano, Carlos deveria dar aulas à quarta classe, mas não chegou a dar.
As eleições não chegaram a ser feitas e o Alto-comissário de Portugal para Angola, O tristemente conhecido Almirante Rosa Coutinho, o Almirante vermelho, pertencente ao partido comunista Português, deu a independência ao MPLA, embora a UNITA tivesse maior população.
                                             XI Parte
Com essa triste resolução deu início à terrível guerra civil Angolana.
Muito armamento soviético entrou em Angola e, com esse material, veio também muita tropa cubana para as fileiras do MPLA.
 A luta entre os partidos tinha começado e Angola entrava a ser completamente devastada.
O MPLA controlava grande parte de Angola, com excepção do leste, onde a Unita se tinha refugiado e dava luta ao MPLA apoiado pelos cubanos.
Os Estados Unidos da América, resolvem então apoiar a UNITA e, para além de mandarem armamento, solicitaram também o apoio militar da África do Sul que entrou em Angola com o seu batalhão Búfalo para ajudar a UNITA.
A força sul-africana e as tropas da UNITA, rapidamente tomaram novamente conta de grande parte do território de Angola, só parando à entrada de Luanda.
Neste ano de 1976, havia eleições nos Estados Unidos da América e a força da África do Sul, estava à espera de ordens para entrar em Luanda e tomar a cidade.
Corria o rumor em Angola, que tudo seria decidido depois das eleições dos Estados Unidos. Se ganhassem os republicanos que estavam no poder, a força sul-africana tomaria Luanda, mas se ganhassem os democratas, a força sul-africana retiraria e abandonava a UNITA.
Savimbi garantia que iria tomar Luanda, mas o que aconteceu foi precisamente o contrario.
Nos Estados Unidos, ganhou as eleições o democrata Jimmy Cárter e as forças sul-africanas saíram de Angola.
Com a retirada dos sul-africanos, a UNITA recuou até ao seu território natural, o leste de Angola.
A partir do leste, a UNITA continuou a dar luta ao MPLA, mas desta vez, em vez de guerra clássica, manteve a guerra de guerrilha que durou até à morte de Savimbi em 2002.
Nenhum departamento governamental estava a funcionar e as escolas não eram excepção. Estava tudo parado.
Um casal amigo da família de Carlos, funcionário do governo português em Angola, recebeu ordens para regressar a Portugal. Esse casal, com muita mágoa, arrumou as suas coisas e foram para Moçâmedes, onde estava um navio português à espera dos muitos funcionários que abandonavam Angola.
Este casal, tinha uma cadelinha pequena, com o pelo branco e preto. Era da raça que em Angola se chamava de Bambi. A cadelinha era muito linda e meiga. O casal passou por Vila Arriaga a caminho de Moçâmedes e deu a cadelinha à família de Carlos, uma vez que não a podia levar para Portugal.
Com lágrimas nos olhos, entregaram a cadelinha e pediram que tivesse com ela muito amor e cuidado. A cadelinha era para eles, como uma filha.
A senhora, ao entregar a cadelinha disse:
- Por favor, tenham cuidado. Não a deixem engravidar, pois ela tem o útero muito estreito e não pode ter filhos. Cuidem dela. E se um dia tiverem de sair de Angola, por favor não a deixem abandonada.
A família de Carlos agradeceu ao casal amigo, despediram-se com grande emoção e pegaram a cadelinha ao colo. O nome desta cadelinha era Laica.
Como Carlos se tinha casado há relativamente pouco tempo, a Laica foi adoptada como uma filha e passou a ser a alegria da casa. A cadelinha agradecida, ou por ser da sua própria natureza, aceitou muito bem a mudança de donos e rapidamente se adaptou à nova casa.
Continua

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