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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


              
             ANOS CONTURBADOS DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA                               
                                                     VIII Parte
Pela rádio Brazavil, ouvia-se que os dirigentes do MPLA e da FNLA com o apoio de outros governantes africanos, estavam constantemente em reuniões com governos europeus para resolveram o problema da presença portuguesa em África.
Todos os países de África ocupados pelos europeus, já tinham a independência, menos os territórios ocupados pelos portugueses.
Terminada a campanha em Sanza Pombo, a companhia de Carlos foi para o Caxito e ficou colocada na Fazenda Tentativa.
A fazenda Tentativa era uma fazenda agrícola que em tempos idos, cultivava entre outras coisas, cana-de-açúcar e bananas. No seu tempo áureo, deveria ser uma grande fazenda e muito importante na economia de Angola, pois até caminho-de-ferro tinha. Estava desactivada, mas as bananeiras davam boa fruta.
Sempre que os militares passassem pelo campo de bananeiras, apanhava cachos de bananas que serviam para enriquecer a alimentação das tropas, composta principalmente por ração de combate.
 A tropa portuguesa sabia que os turras faziam o mesmo, mas mesmo assim, nunca houve qualquer contacto entre eles.
Havia suspeitas que os turras, por conhecer muito melhor o terreno que as tropas portuguesas, controlavam a movimentação das tropas e evitavam assim o contacto directo.
Isto era mais uma amostra de que os chamados turras estavam em decadência militar.
Nesse período, a companhia de Carlos também era uma das responsável pela segurança da Barragem das Mabubas , onde havia um complexo industrial eléctrico que fornecia electricidade a Luanda.
Carlos era o furriel mais antigo da Companhia e por tal motivo, pertencia ao primeiro pelotão, onde chefiava a primeira secção.
O pelotão de Carlos foi destacado para Calamboloca,
Carlos não sabia a importância que tinha aquela povoação. Mas quando lá chegou, soube que era a terra do já lendário Comandante supremo do MPLA, o Dr. Agostinho Neto. Isto por si só, já era motivo suficiente para se ter respeito, pois pensava-se que na sua terra natal o líder teria mais apoios e a luta seria com certeza mais activa.
Mas não. Da tal luta armada apenas se ouvia falar, que em tempos passados aquela zona teria sido terrível, mas hoje, com a psico utilizada pelo exército português, estava uma zona normal.
Nas várias patrulhas que a secção de Carlos fez naquela zona, sempre encontrou população amiga e sempre pronta a ajudar.
Numa dessas patrulhas, Carlos passou por uma sanzala que ficava perto do quartel. Aí, uma mulher com uma criança ao colo, foi até Carlos e pediu se lhe podia dar algo para comer.
Carlos não só deu a sua ração de combate, como também perguntou se ela queria ser a sua lavadeira.
A mulher aceitou de imediato e no dia seguinte estava junto à vedação de arame farpado do quartel à procura de Carlos.
Carlos foi ter com ela e entregou-lhe apenas uma camisa e um par de calças civis e roupa interior. Carlos tinha mais roupa suja, mas quis assim experimentar se a mulher seria ou não de confiança.
Dois dias depois a mulher aparece com a roupa lavada e passada. Carlos viu que estava tudo em ordem e pagou à mulher o que ela pediu pelo trabalho.
                                              IX Parte
 A partir desse dia e durante o tempo que Carlos estive em Calamboloca, a mulher foi sempre a lavadeira de Carlos, do outro furriel e do alferes do pelotão de Carlos que também ainda não tinham lavadeira.
Nesse período a secção de Carlos fez protecção ao comboio que ia para Malange, sem nunca ter sequer dado um tiro. Nunca houve qualquer contacto com o chamado inimigo, apesar do comboio ir sempre à pinha e Carlos ter conhecimento de, de vez em quando haver conflitos no mesmo.
Numa patrulha apeada que o pelotão de Carlos fez pela zona, apenas encontrou no meio da mata vestígios já antigos de pequenos acampamentos dos chamados turras, mas nada recente.
Na realidade, tudo indicava que em Dezembro de 1973, a guerra estava realmente ganha pelo exército português no norte de Angola.
Quando regressou à fazenda tentativa e se juntou á sua companhia, Carlos pensou que iria ficar por ali até ao fim do seu tempo militar. Mas não. Pouco depois a companhia recebe ordens para ir para o Sul. Destino Pereira D’Eça, junto à fronteira com a Namíbia.
Em Pereira D’Eça, Carlos estava praticamente em casa, pois a sua cidade Sá-da-Bandeira, ficava relativamente perto.
Nesta zona de Angola, não havia guerra, a companhia de Carlos foi ali colocada como prevenção contra a SWAPO.
SWAPO era o movimento de libertação da Namíbia que, segundo informações dadas pelos sul-africanos, apoiava a UNITA e esta apoiava a SWAPO. Assim Carlos fez várias vezes patrulhas junto à fronteira sem nunca ter qualquer contacto quer com um, quer com outro grupo de guerrilheiros.
É aqui, em Pedreira D’Éça que Carlos ouve a notícia de ter havido um golpe de Estado em Portugal, e que os militares conhecidos como o grupo dos capitães, chefiados no terreno por Salgueiro Maia, tinham tomado conta do poder e que Marcelo Caetano, primeiro ministro de Portugal que tinha sucedido a Salazar, tinha fugido para o Brasil.
Dias depois, os movimentos, que até aí, estavam completamente destroçados, reorganizaram-se e começaram a entrar em Angola, sem qualquer intervenção militar portuguesa e, começou a grande confusão.
Os movimentos eram três, A FNLA de Holden Roberto; O MPLA de Agostinho Neto e a UNITA de Jonas Savimbi. Todos queriam tomar conta dos quartéis portugueses e ficar com o armamento português.
Havia ordens do Alto-comissário de Portugal para Angola, o senhor Almirante Rosa Coutinho, para não se oferecer resistência aos movimentos e que Portugal estava a negociar a entrega pacífica das províncias aos respectivos movimentos.
Como em Angola havia três movimentos, estava-se a preparar tudo para haver eleições democráticas, controladas por Portugal.
Um dia, aparece no quartel em Pereira D’Eça, uma delegação da UNITA, chefiada por um tal Vaculucuta que foi falar com o capitão para fazerem uma mudança de poderes. Carlos não sabe o que se passou, mas sabe o que o seu capitão fez e muito bem.
O capitão da companhia de Carlos, não estava na disposição de entregar a sua companhia aos movimentos de libertação.
Assim, mandou reunir a companhia e em coluna militar segui para Sá-da-Bandeira, onde entregou a companhia com todo o material e pessoal aos seus superiores do RI nº 22.
Continua 

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