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Tudo o que quero e não posso, tudo o que posso mas não devo, tudo o que devo mas receio. Queria mudar o Mundo, acabar com a fome, com a tristeza, com a maldade.Promover o bem, a harmonia, intensificar o AMOR. Tudo o que quero mas não posso. Romper com o passado porque ele existe, acabar com o medo porque ele existe, promover o futuro que é incerto.Dar vivas ao AMOR. A frustração de querer e não poder!...Quando tudo parece mostrar que é possível fazer voar o sonho!...Quando o sonho se torna pesadelo!...O melhor é tapar os olhos e não ver; fechar os ouvidos e não ouvir;impedir o pensamento de fluir. Enfim; ser sensato e cair na realidade da vida, mas ficar com a agradável consciência que o sonho poderia ser maravilhoso!...

sábado, 5 de janeiro de 2013



                          ANOS CONTURBADO DE UMA ANGOLA EM MUDANÇA                                             
                                                       III Parte
A mãe que não queria ver o filho preocupado e com medo, inventou uma desculpa e disse que o pai ia à caça com os amigos.
No dia seguinte, na escola, ouviu uma conversa entre a professora e o senhor Amaro, que trabalhava na administração do concelho como escriturário.
 Falavam baixo, mas ouviu que falavam da milícia e dos turras. E estavam preocupados.
Intrigado, perguntou aos outros colegas se nas suas casas havia algo de anormal?
Todos responderam que não.
Seria possível que só ele estaria preocupado com o que se estava a passar no norte? Só ele não. Os adultos também estavam. Por que razão faziam milícia? E o que era milícia? E o que quer dizer upa? E turras?
Tantas perguntas para a qual não tinha respostas e que os adultos não estavam com disposição para esclarecer.
O tempo foi passando. Carlos acabou a primária e foi estudar para a cidade de Moçâmedes. Ficou na casa do seu avô paterno.
O seu avô, natural da Metrópole, gostava muito de ouvir as notícias no rádio que tinha na sala de jantar e que era alimentado por uma bateria grande.
À hora das notícias, todos tinham que ficar calados, pois ele queria ouvir todas as notícias sem barulho. Foi aí que Carlos deu conta de que algo de anormal se estava a passar no norte de Angola.
Um dia, quando conversava com o seu avô, sentado no quintal da vivenda onde viviam, perguntou-lhe o que se estava a passar no norte de Angola com os turras.
Seu avô explicou-lhe que turras, quer dizer terroristas e que eram um bando de negros do Congo que tinham invadido Angola e tinham morto à catanada alguns colonos portugueses. Mas que o governo de Salazar já tinha mandado tropas para guardar o território.
Carlos interrompeu o seu avô e perguntou quem era Salazar?
O avô, com grande paciência, explicou-lhe que Salazar era o governante do país. Estava em Lisboa, capital de Portugal e era quem mandava em tudo.
Carlos aproveitou a boa disposição do seu avô, e perguntou-lhe o que era milícia.
Novamente o avô de Carlos, explicou que milícias eram grupos de cidadãos que com as suas armas de caça, faziam rondas pelas cidades e vilas para guardar a população, normalmente à noite quando todos estavam a dormir, para que não acontecesse o mesmo que aconteceu no norte de Angola.
Depois de uma pausa, o avô de Carlos continuou:
-Não te preocupes meu neto. Estuda para seres um homem. Salazar já mandou muita tropa para Angola e os militares vindos da Metrópole, já estão a tomar conta da situação.
Como o avô de Carlos já tinha uma idade que não lhe permitisse acompanhar os estudos do neto com a atenção necessária, o pai de Carlos falou com um seu amigo que além de professor na escola comercial e industrial Infante D. Henrique, onde Carlos ia continuar os seus estudos, era também o comandante da Mocidade Portuguesa, para ser o encarregado de educação de Carlos, perante a escola.
A Mocidade Portuguesa era uma organização de origem política cujos membros tinham uma farda composta por calção de caqui e camisa verde com o escudo de Portugal bordado no bolso esquerdo, meias altas até ao joelho, sapatos os botas castanhas e um cinto em cabedal de cor castanha, cuja fivela era um S. O S de Salazar.
 Continua

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