NÃO SE APAGARÁ A SAUDADE

E sempre vencerá a saudade,

Não a que sinto fisicamente,

Mas aquela da velha mocidade,

Que se perdeu assim de repente,

Com este avanço da nossa idade.

Segundos dessa minha ilusão,

Vivos nesse tempo que corre,

Transmite-me uma outra sensação,

Na memória que fica e não morre,

Ferida por toda essa emoção.

No real viver, procuro fugir

Desses meus sonhos atormentados.

Que perdidos no tempo vão surgir,

Depois de juntar, todos os bocados,

O eco passado se fará ouvir.

Voa o tempo no seu infinito,

A saudade não se apagará

E tudo quilo em que eu acredito,

Nesta memória se fixará

E no Universo ficará escrito.

Carlos Cebolo

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APENAS SONHO

Minha alma madruga só!

O corpo permanece ainda adormecido,

Entre os lençóis esquecido,

Num gemer que mete dó,

Na lembrança do pensamento escondido.

Lembrança do que foi meu,

Entre delírios deste meu desconforto,

Daquele passado já morto,

Recorda esse beijo teu

Que nunca foi dado, nem sequer suposto.

Mas no sonho foi assim!...

Tão gostoso como se fosse verdade,

Sentido nessa igualdade

No querer, ser igual a mim,

No fervor da já passada mocidade.

Carlos Cebolo

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TEMPO SEM CULPA

Não foi esse tempo que me mentiu,

Da vida, esperei o que não me dava,

Construí o castelo que depois ruiu,

Naquela paisagem que deslumbrava.

Como sonhador, procurei esquecer,

Acolhendo outro amor que foi surgindo

E sem ter outra razão para viver,

Sofro deste amor que me vai fugindo.

Na tortura que minha alma criou,

Aprofundando essa sua demência,

Criou o frio que depois a gelou.

E ninguém sabe o que sinto e o que sou,

Na madrugada da minha consciência,

Por onde esta dor indiferente entrou.

Carlos Cebolo

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SONHO OS TALVEZ NÃO

Sonhei!...

Um sonho triste e desgastante,

Nuvens vindas do Ocidente,

Carregadas de um ódio marcante,

Chegaram ao local onde me fixei,

A caminho do Oriente.

Encontrava-me numa praia deserta,

Pés descalços, caminhava sozinho

E no horizonte, aquela hora incerta,

Traçava-me um inseguro caminho.

A dormir, mas com o pensamento activo,

Ouvia gritos saídos de um armário

E alguém me perguntava qual era o objectivo

De tudo agora ser ao contrário.

Em outros tempos, o percurso era inverso.

Do Oriente vinha os maus fluídos

Que contaminavam todo o Universo

E no Ocidente, ouvia-se os ruídos.

Confuso, o meu sonho continuou,

Não me dando o descanso merecido

E na sua precária incerteza,

Como nuvem cinzenta se esfumou,

Como se nada tivesse acontecido

E o dia nasceu com a sua beleza.

Não sei se acordei de imediato,

Ou se continuei a dormir,

Sem sentir aquele triste sonhar.

Levantei-me e abri a janela do quarto

E o Sol não estava a sorrir

Nem aquele dia a clarear.

Carlos Cebolo

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O AMOR NÃO MORRE

Cai desamparado este frio nas terras do Norte,

Do amanhecer ao entardecer o Sol perde vigor,

Como ele, também o velho corpo ferido de morte,

Lembra a sua juventude com todo o seu fervor.

Nessa imaginação, apenas o sonho me inunda,

Este frio invernal, não tira o aconchego do amor,

Com esse ondular do vento, essa mágoa mais profunda,

Aconchega minha alma, terminando a sua dor.

E de ti, me lembro nas nossas noites de verão,

Esse teu corpo ondulante pelo Sol aquecido,
Na volúpia da entrega, coberto por fino roupão.

Aquele teu carinho no doce beijo que trocamos,

Com todo este passar do tempo não ficou esquecido

E lembra-nos que este nosso amor, não morreu com os anos.

Carlos Cebolo

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PENSEI UM DIA EM VOLTAR

Pensei um dia em voltar,

Mas sem encontrar meus passos

Na areia húmida do mar,

Sem te apertar em meus braços,

Não! Não quero imaginar.

No olhar, lágrimas contidas,

Daquela brisa a frescura,

No som do vento cantigas

Que nos recorda a ternura

Dos tempos e Eras antigas.

E sem ti, ficam os desertos,

Sombras e seus movimentos

De todos os tempos incertos

Que tolham os sentimentos

E deixam os olhares abertos.

Espelho inútil e vão,

De um olhar que se fechou,

Com toda a dedicação,

Outro destino traçou,

Com o futuro na sua mão.

No presente só ilusão,

Desse mar sem ter maré

Que inunde esse coração,

De um passado que deixou fé,

Sem compreender a razão.

Carlos Cebolo

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VOAM OS DIAS

Estes dias voam e o corpo se gasta

E sem sermos livres como os animais,

Somos cientes dessa superior casta

Entre outros seres que uivam pelos pinhais.

O vento carrega todos os queixumes,

Levando para longe todos os ideais,

Deixando para trás os seus perfumes,

Os seus vícios secretos e irreais.

Assim sentindo, vamos caminhando,

Colhendo mistérios que nos abalam,

Sem princípios, sem fim, sem saber quando.

E se em nós germinar essa aventura,

Daqueles que no passado ficaram,

Solta-se o grito dessa desventura.

Carlos Cebolo

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ENTRE O SONO E O SONHAR

Do que resta do dia,

À noite se desfaz

E nessa simetria,

Nada será eficaz.

Entre o sono e o sonhar,

Entre o Eu e o meu fim,

Há o querer ir e o ficar,

O que sobra de mim.

E se o sonho é miragem,

O instante será vida

E segue o espírito em viagem,

Do acordar que é partida.

Se ao dia serei casas,

Nas horas que medito,

À noite crio asas,

Com tudo que acredito.

E se o tempo assim corre,

Passado sem ter fim,

Também comigo morre,

Aquele que vive em mim.

Carlos Cebolo

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MAR INTERIOR

Metade de mim, é água salgada,

Que à noite se transforma em nostalgia,

Com esta alma cheia, um pouco de nada,

Transformando o sonho em pura magia.

Nem sempre me encontro na maré cheia

E o sonhar, nem sempre me satisfez,

Como as ondas se desfazem na areia,

Muitas vezes o meu sonhar se desfez.

E com essa tristeza mais profunda,

Em cada queda se levanta esta alma,

Que o próprio mar, com a maresia inunda.

E as lágrimas escorrendo pelo rosto,

Vão alimentar o mar que me acalma,

Levando com elas o meu desgosto.

Carlos Cebolo

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ESPÍRITO JOVEM

Foge-me a juventude,

Sem poder parar o tempo,

Desta vida que me ilude.

Fica-me a mocidade

De uma alma perdida,

Neste avanço da idade.

E para nada recordar,

Em toda esta despedida,

Não sinto o tempo parar.

Se sentisse alguma dor,

Do invólucro a envelhecer,

Deixaria de ter amor.

Como o amor permanece,

Sem me fazer sofrer,

Este mundo não me entristece.

Renova-se este espírito,

Do corpo que envelhece,

Sem soltar o seu grito.

E com todo este agrado,

Tudo faço para merece,

Continuar a ser desejado.

Carlos Cebolo

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DE GLÓRIA SE FEZ O PASSADO

Por cá, somente a imaginação,

De um amor que o próprio perigo sente,

No rigor da ausência que consente

Esse amar em ritmo de oração.

O fogo ardente desse teu seio,

Que nessa ausência será forçado,

Com essa visão do meu cuidado,

Sustenta todo este meu receio.

Assim, vai-se vivendo esse inferno

Que no canto da noite estremece,

Vivendo essa angústia que merece

Sentir o verão, nesse seu inverno.

E de glória se fez o passado,

Do coração cheio de aventura,

Desses vários amores e fé tão pura

Que de jovem lhe deixou legado.

Querendo paz, na vida presente,

Aconchega o corpo nesse inverno,

Com o seu amor que será eterno,

Nesse sonho que projecta a mente.

Carlos Cebolo

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COMO TE AMO MEU AMOR

Como te amo meu amor,

Amo-te como a lua ama o sol,

Pois sem ele não tem luar,

Amo-te como a abelha ama a flor,

Pois sem ela, não faz o mel,

Amo-te como a comida ama o sal,

Pois sem ele não tem sabor,

Mas eu amor!...

Não sei porque te amo.

Amo-te apenas porque te amo

E sei que sem ti é difícil viver.

Como te amo meu amor,

Amo-te como a terra ama a água,

Pois sem ela não florescerá,

Amo-te como a flor ama a cor,

Pois sem ela não terá beleza,

Amo-te como a vida ama a felicidade, 

Pois sem ela não terá valor,

Mas eu amor!...

Não sei porque te amo.

Amo-te apenas por te querer amar

E por sentir, seres a chave da felicidade.

Carlos Cebolo

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COMEÇA O DIA

Começa o dia em alvorada celeste,

Contigo estar nesse calmo acordar,

Tocar a pele que esse teu corpo veste,

Na claridade do teu doce olhar,

Aquele beijo que ainda não me deste.

Abrem-se as cortinas do teu olhar,

O teu sorriso encanta este meu dia,

Tornando belo, esse meu acordar,

No desejo que a minha boca sentia,

Esperando esse teu doce beijar.

Nessa igualdade dos dias nascentes,

A diferença é toda feita por nós

E as surpresas dos instantes que sentes,

Vem lembrar que no amor, não estamos sós

Nem os instantes serão inconsequentes.

Carlos Cebolo

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SALVAR A BELEZA

Da Natureza um murmúrio, um queixume,

Maus - tratos e muitos incumprimentos,

Poluição criada sem sentimento,

Deixam pelo ar, um outro perfume.

A rosa brava murcha nos silvados,

Sem o aroma libertado no ar,

Sentem a tristeza das aves a cantar,

Nas variações tristes dos seus trinados.

Outrora, nas madrugadas serenas,

Ouvia-se alegrias pelos cantos

E a Natureza tinha os seus encantos,

Sentido nessas aves mais pequenas.

O Ser humano seria o protector,

Dessa tão bela e única Natureza,

Se olhasse apenas para essa beleza,

Sem ter ganância e criação de dor.

Carlos Cebolo

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PONTES

No suspiro da noite,

O vento da essência

Leva-te um beijo meu

E traga até mim

Essa tua inocência.

Sem pressa vai devagar,

Este meu chamamento

Que se encontra com o teu,

Entre as flores deste jardim,

Acolhendo o sentimento.

O que sei eu desta vida?

Constrói-se castelos

Na ideia consentida

E a tormenta começa

Onde o sonho acaba.

São pontes levadiças,

Nesta junção do tempo,

Onde o amor desemboca

Com todo o seu desejo,

Levando até ti um beijo.

E nem tudo é eterno,

Calam-se as vozes do além,

E porque não sou ninguém,

Lágrimas soltas ao vento,

Bebo do cálice que venero.

Carlos Cebolo

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QUISERA EU

Quisera eu, esquecer tudo o que sinto,

O vazio, a tristeza e este meu sofrer.

Todo aquele nosso mundo já extinto,

O chão sagrado que me viu nascer.

Pouco importa agora o que se perdeu,

Pensam aqueles que lá não viveram,

A nova esperança que se prometeu,

É dor no coração dos que sofreram.

Lembrando tudo, meu coração dói,

Lembranças que se tornaram instantes

No olhar triste de quem foi nosso herói.

Lembro essa triste hora em que te deixei,

Os teus chamamentos insinuantes

Para lá ficar, mas eu não fiquei.

Carlos Cebolo

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APARÊNCIAS

Já não sei o que dizer,

Para soltar esta tristeza,

Não sei ser triste a valer,

Não é minha natureza.

Nas emoções não sentidas,

Tudo isso são sensações,

São tristezas repetidas

Que alimenta os corações.

Sem se sentir a tristeza,

De um florir do coração,

Ser alegre será beleza,

Recordando a sensação.

Todo o prazer me dá calma,

Mentira não é emoção,

É sentir essa dor na alma

De uma flor sem embrião.

Mas sem haver tal diferença,

Em toda a comparação,

Apenas fica a consciência,

De um florescer com emoção.

Ser alegre é ter a tristeza,

Com a vida que nos calhou,

No poeta toda a incerteza,

É fingir que já chorou.

Carlos Cebolo

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A CONTEMPLAR O MAR

A contemplar o mar, nasce o amor,

Mar dos mistérios, como se diz,

Cheio de aventura e também dor,

Nos naufrágios a sua matriz.

Ver o horizonte nessa hora poente,

Colhendo no seio a natureza,

É sentir o mistério na mente

E da mulher colher sua beleza.

Quantas lágrimas em ti, se verteu,

O tempo perdido no infinito,

Chamando esse amor que se perdeu,

No mundo que se tornou proscrito.

Tocando essa maré desterrada,

Seios de mulher na formosura,

Nesse mar, vive ela enamorada,

No seu sonho, cheio de ternura.

Sonhando com o seu fiel namorado,

Nesse sono, onde se encontra perdida,

Morde o doce fruto desejado

E no acordar, sente a despedida.

Mulher escrava em corpo de rainha,

Com seu amor tarde a desfolhar,

Olha esse horizonte onde se aninha

E assim, morre-se a contemplar o mar.

Carlos Cebolo

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SENSAÇÕES POÉTICAS

O que escrevo não me ensina,

Nem sempre serei o que quero,

Tudo isso é desespero,

Da vida sem ser divina.

Se escrevo versos de amor,

É porque tenho carência,

Se nos versos meto dor,

É falta de consciência.

Também assim serei poeta,

Finjo ser o que não sou,

Fingindo junta-se à festa,

Os sonhos que não sonhou.

E sem querer ofender,
Levo tudo na fantasia,

E assim irei padecer,

Escrevendo em poesia.

E os amigos que me entendem,

Sabem bem o que eu digo,

As emoções não se vendem,

E o poeta será mendigo.

Mendigo como se quer,

Nesse amor sempre imperfeito,

Onde existe homem e mulher,

A poesia é seu preceito.

Carlos Cebolo

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PROCURANDO A FELICIDADE

Por onde andas felicidade?

Sem ti, tudo é diferente,

Não há alegria, não há mocidade

E o Outono chega de repente.

Sem ti, sigo nesta tristeza,

Sinto as frias e tristes madrugadas

E vivo nesta incerteza

Das memórias apagadas.

Por onde andas felicidade!...

Procuro-te em cada canto,

Deste meu mundo de saudade

E não vejo o teu encanto.

Já me sinto cansado,

Neste sentir do inverno a chegar,

Vivendo assim amargurado

Com todo esse pesar.

Neste mundo meio perdido,

Num céu fechado e escuro,

Vejo o destino invertido

E por lá, a ti eu procuro.

Procuro sem te encontrar,

Entre as flores do grande jardim

Onde adão e Eva quiseram amar,

Naquela loucura sem fim.

Mas a serpente com sua maldade,

Tentou todo aquele Paraíso

Escondendo a felicidade

E Adão perdeu o juízo.

Carlos Cebolo

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